São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Quem acompanha o noticiário sobre F-1 já percebeu a quantidade de histórias baseadas em especulações e boatos.
Em qualquer outro campo do jornalismo, isso seria uma heresia. Nada pior, para um jornalista, do que publicar um fato, sem que haja uma confirmação. Mesmo que de uma fonte anônima.
Infelizmente, essa é a norma na F-1. Todas as grandes revelações dessa temporada foram antecipadas, graças a uma intricada rede de boatos.
A maior notícia do ano, a transferência de Michael Schumacher para a Ferrari, foi o maior exemplo. Divulgou-se (de forma correta) até em que dia ele seria anunciado como piloto da casa de Maranello.
Depois de tudo resolvido, pouco interessa o que foi dito antes. Mas é notável recordar a cara de pau de certas figuras.
Willy Weber, empresário do alemão, negou até o último dia que Schumacher havia sequer conversado com a Ferrari.
No ano passado, um exemplo ainda mais grave. Ao lado de Jean-Pierre Jabouille, da Peugeot, o chefe da McLaren, Ron Dennis, negou veementemente que interromperia a associação com a fábrica francesa.
Dois meses depois, Dennis sorria ao lado de seu Mercedes e Roger Penske, o terceiro lado de um negócio ainda obscuro.
Penske estava em Jerez, na Espanha, quando Dennis fez aquele desmentido constrangedor.
Em Suzuka, na semana passada, foi a vez de Tom Walkinshaw. O chefe da Ligier, para espanto de todos, negou a negociação com Pedro Paulo Diniz.
O mal-estar foi notório entre os jornalistas. A pergunta foi refeita e Walkinshaw brincou, falando que tinha ido à Disneylândia e não sabia do que estava acontecendo.
Simplesmente mentiu. E, por causa de atitudes desse tipo, é que os boatos são parâmetros para quem acompanha a F-1.
Chegou-se a um tal ponto nesse vício que existem até os que plantam notícias nessa rede especulativa. Uma maneira rasteira de ganhar espaço na mídia, algo muito importante no complexo marketing da categoria.
De certa forma, esse maneira das coisas funcionarem só existe na F-1. Algo bastante diferente acontece em outros meios, como na Indy, por exemplo. Não que inexistam as especulações na categoria norte-americana.
Mas elas não são o fio condutor do noticiário.

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