São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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Biografia enfoca teatro de Flávio Rangel

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Livro: Viver de Teatro - Uma Biografia de Flávio Rangel, de José Rubens Siqueira, 384 págs.
Lançamento: 20 de novembro, às 20h, no Teatro Municipal (SP)
Quanto: R$ 34

"Viver de Teatro", biografia do diretor teatral Flávio Rangel (06/08/1934-25/10/1988), é um recorte da vida do biografado. O autor, José Rubens Siqueira, centrou o foco na atividade teatral. Deu pouco espaço para o cronista, para o diretor de shows musicais. Deixou a vida íntima na sombra.
Foi uma opção. "A biografia é sobre o homem de teatro Flávio Rangel, o homem público", diz Siqueira, 50, ele também diretor e autor de peças teatrais.
Detalhes picantes não entram. Brigas ou aventuras amorosas -e não foram poucas- surgem em menções incidentais.
No caso de Rangel, que se definia um "homem de teatro", o recorte é bem amplo. De "Juventude Sem Dono", em 1958, a "O que o Mordomo Viu", em 1985, ele montou 49 peças.
Logo seu segundo espetáculo, "Gimba"(de Gianfrancesco Guarnieri), o colocou, aos 25 anos, entre os mais importantes diretores da época. Uma opinião que não se restringiu à crítica brasileira.
A peça participou do Festival das Nações, em Paris. Rangel ficou em segundo lugar como melhor diretor, numa votação apertada: teve 17 votos, contra 18 dados ao vencedor -no caso, ninguém menos que Bertolt Brecht.
Desde esse surpreendente início de carreira, o livro acompanha Rangel espetáculo a espetáculo.
As opções políticas do diretor surgem ao lado das montagens teatrais. Como em 1965: para responder ao movimento militar de 64, Rangel montou "Liberdade, Liberdade", texto seu em parceira com Millôr Fernandes.
A peça era um comício estetizado. "O espetáculo se transformou numa espécie de hino da resistência", afirmou o diretor. Um hino que virou best seller. Editado pela Civilização Brasileira, foi traduzido em montado em 22 países.
No Brasil, a procura era tão grande e as montagens tão constantes que os autores deram autorização para qualquer encenação, independente de consulta prévia.
A biografia nasceu de um depoimento de Rangel ao poeta Ferreira Gullar, em 88, três meses antes de morrer. As 11 horas de gravação virariam um livro do Inacen (Instituto Nacional de Artes Cênicas). Sem verba, o livro não saiu.
Ariclê Perez, viúva de Rangel, passou as fitas e os arquivos do diretor para Siqueira, que colheu ainda mais de cem outros depoimentos -artistas como Guarnieri, Paulo Autran, Maria Della Costa.
A estrutura do livro preservou a forma de depoimentos. A história, com comentários e informações conduzindo a narrativa, é contada por esses artistas e pelo próprio Rangel. A apresentação gráfica lembra uma peça teatral. Nomes em negrito, personagens, seguidos de depoimentos, suas falas. "Eu quis preservar o conteúdo dramático, é quase teatral", diz Siqueira.
O foco teatral não impediu a inclusão de uns poucos exemplos da atuação de Rangel em outras áreas. É o caso da crônica de 15/11/78, na Folha (onde Rangel manteve uma coluna entre 1978 e 1983). No dia da eleição indireta do general João Batista Figueiredo para a Presidência, Rangel protestava contra a falta de democracia.

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