São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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Omissão; Lamia; Nome aos bois; Assédio sexual; Anistiado; Exportação cultural; Substituição forçada; Anestesia

Omissão
"Fiquei decepcionado com a omissão da Folha frente ao recente episódio de nepotismo no governo federal, ou seja, a contratação da filha do presidente da República para ocupar cargo em Brasília com direito a salário de R$ 3.500 e apartamento funcional. Logo a Folha, que tem se pautado nos últimos anos pela denúncia e crítica desse tipo de prática. O pior é que o fato ocorreu logo após a aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara da 'reforma administrativa'. Já podemos vislumbrar o nosso futuro: funcionários de carreira sendo demitidos para 'reduzir despesas' e a contratação de familiares, cupinchas e apaniguados."
João Alves de Araújo Filho (Goiânia, GO)

Lamia
"Sobre a carta publicada no dia 30/10 do 'Comitê de Libertação de Lamia', afirmando que Lamia teria 'tão-somente certa alegada cumplicidade' no brutal esquartejamento de um militar israelense, eu pergunto: se isso não é considerado terrorismo, então o que é? Alguém se preocupou com o sofrimento da vítima ou de sua família? Lamia com certeza não se preocupou."
Ezra Katri (São Paulo, SP)

Nome aos bois
"'Nestes tempos de homens sombrios' como o que vivemos não me causa nenhuma estranheza a reportagem publicada no caderno Mais! de 29/10 -"Viagem às ruínas do século"-, onde o nome de artistas, equipes multidisciplinares e o meu, como autor do projeto arquitetônico, sequer foram mencionados. A essência do "Arte Cidade" é ser coletivo, e não de autoria de uma única pessoa. E é um equívoco confundir curadoria com autoria de projeto."
Ciro Prondi, presidente da Fundação Vilanova Artigas (São Paulo, SP)

Assédio sexual
"Em resposta à leitora Maria da Graça Nogueira (27/10), gostaríamos de esclarecer o seguinte: em reunião realizada em nosso gabinete, no dia 25 de setembro, mulheres representantes de cerca de 40 entidades descartaram a idéia de ônibus exclusivos para evitar o assédio sexual. Elas pediram, sim, uma campanha de esclarecimento. Os ônibus exclusivos, portanto, estão fora de cogitação. Quanto à afirmação da leitora de que 'há uma grande defasagem de ônibus em circulação', lembramos que, em janeiro de 1993, quando a atual administração assumiu o governo, a frota de ônibus de São Paulo era de 11.119 veículos; hoje ela é maior, com 11.663."
Carlos de Souza Toledo, secretário municipal de Transportes (São Paulo, SP)

Anistiado
"A propósito da reportagem 'Anistiado pede esquecimento' (Folha, 30/8), não é verdade que tenha sido 'o único guerrilheiro do Brasil que foi condenado à morte'. Como poderá ser observado nos arquivos da própria Folha, três brasileiros foram legalmente condenados à morte por motivos políticos depois de 1964 e centenas de outros também o foram, sem direito de defesa e sem observância dos procedimentos legais, por pessoas que, ao mesmo tempo, foram seus captores, juízes, algozes e carrascos. Também não é exato que seja juiz do TRT da 6ª Região. Não peço que esqueçam o período da ditadura militar. Pelo contrário, peço que lembrem continuamente uma época em que as liberdades públicas e individuais foram garroteadas; cassados parlamentares, juízes, professores e servidores públicos, sem direito sequer a um processo regular; sindicatos e entidades estudantis fechados; a imprensa amordaçada; partidos políticos proibidos de funcionar e atirados à clandestinidade. O futuro se constrói também com a experiência acumulada no passado e devemos todos velar para não permitir a repetição de experiência tão dolorosa. Quando falei de esquecimento quis dizer que, do ponto de vista estritamente jurídico, anistia significa esquecimento. Que as pessoas envolvidas naquele processo, de uma forma ou de outra, não poderiam (nem podem) sofrer qualquer tipo de sanção em decorrência de atos que foram legalmente esquecidos, apagados do mundo jurídico. Acredito firmemente que as famílias das pessoas rotuladas sob o eufemismo de 'desaparecidos' têm o direito de saber como 'desapareceram' e onde se encontram seus restos mortais. Mesmo porque todos nós sabemos que muitos dos 'suicidas', 'atropelados', 'evadidos' e 'mortos em tiroteio' na verdade foram assassinados. Processos, livros e reportagens sobre o assunto existem aos milhares. Se não são investigadas as circunstâncias das mortes, como estabelecer a responsabilidade do Estado pelos eventos? Finalmente, é exata a afirmação de que a politização em torno da discussão do projeto do governo sobre os desaparecidos é uma iniciativa de setores extremistas da direita, que deve ser desestimulada por todas as pessoas de bom senso."
Theodomiro Romeiro dos Santos (Olinda, PE)

Nota da Redação - Leia seção Erramos abaixo.

Exportação cultural
"As relações exteriores são necessárias. Os organismos internacionais sem dúvida alguma são muito importantes para o relacionamento das nações. Há embaixadas brasileiras no mundo inteiro, embora na minha opinião os exmos. srs. diplomatas deveriam ser mais criativos e suar muito mais a camisa do Brasil em favorecimento de uma política de trabalho tendo por finalidade priorizar, promover -incentivar-, valorizar e divulgar internacionalmente os novos valores literários do Brasil, com a abertura de concursos de poesias, conto, lançamentos de livros em antologias internacionais com direito a prêmios e recebimento pessoalmente da láurea no país patrocinador do evento literário, e tudo pago por conta da União e embaixadas do Brasil no exterior."
José Eduardo Firme Assis (Salvador, BA)

Substituição forçada
"A propósito do artigo do ombudsman 'Na ponta da língua' (22/10), sobre a confusão entre travessão e hífen nos jornais e revistas, eu gostaria de acrescentar que o ombudsman é que é feliz, pois na Folha ainda há travessão para ser usado. Os simples mortais só têm acesso ao hífen, seja na máquina de escrever, seja na maioria dos programas de computador. Mesmo os poucos programas de computador destinados à produção de textos que permitem o uso do travessão fazem-no por meio de algum comando complicado. Esses obstáculos criaram uma nova tendência, comum em documentos, redações escolares, teses e quaisquer textos não-produzidos em gráficas ou redações de jornais: a substituição do travessão pelo hífen."
Francisco Possebom (São Paulo, SP)

Anestesia
"O que o ombudsman publicou no dia 30/4 está correto. A sociedade -entenda-se poderes constituídos e cidadãos comuns- está anestesiada e insensível. Tem de haver socos de boxeador, como a desumana foto dos gêmeos. O começo, o passo inicial para iniciarem-se mudanças no sentido de reverter essas situações, infelizmente, tem de ser através dessas fotos."
Francisco Mendes (João Pessoa, PB)

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