São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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A morte, e depois?

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

No dia 2 de novembro comemoramos os que terminaram o período de sua vida efêmera e mortal. Será que nos encontraremos com eles no final desta vida? A resposta a essa e outras perguntas precisa da luz da fé em Cristo ressuscitado.
Jesus prometeu que ia preparar um lugar para nós na casa do Pai. Não devemos temer. "Crede em Deus, crede em mim também. Na casa do meu Pai há muitas mansões. Se não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar-vos um lugar" (Jo 14,2). São palavras confortadoras que tranquilizam nossa vida.
No dia dos mortos, a primeira atitude cristã é a de vermos a morte não só como termo da permanência na vida terrena, mas como o início da fase definitiva de nossa existência. Sabemos que Deus, na sua infinita misericórdia, tem caminhos especiais para oferecer sua graça também aos que estão longe dele.
Assim, lembrando os falecidos, somos chamados a louvar a bondade divina e a colocar nas mãos de Deus a salvação eterna de seus filhos falecidos. Nossa fé nos faz compreender que não devemos falar deles como se estivessem ainda mortos, pois eles vivem a vida plena.
Lembro-me de um companheiro de seminário, em Roma, chamado Salvatore. Ele sofria de distúrbios cardíacos e, pouco a pouco, viu-se obrigado a permanecer confinado na enfermaria. Naquela época, em 1956, não havia ainda a operação de ponte de safena. Acompanhei-o durante meses. Nossa amizade cresceu. Um dia, entrando em seu quarto, percebi que suas forças chegavam ao fim. Ao seu lado estava o médico. Salvatore, sereno, quase não podia falar.
Rezamos juntos. Perguntei-lhe, então: "Salvatore, você deseja alguma coisa?" Ele me olhou com muita paz. Sorrindo, fez um sinal com a mão, apontando para o alto, e disse: "Vou para a casa do Pai". Sempre sorrindo, entregou sua bela alma a Deus. Nunca me esqueci de seu olhar confiante. Desde então, aprendi a pensar mais no céu.
Que novembro seja o mês da esperança e da gratidão pela promessa de Deus! Quem não fica feliz sabendo que a morte não acabará com nossa existência? Nosso destino é o encontro com o Pai, o Filho e o Espírito Santo e a experiência da comunhão fraterna com a mãe de Jesus e nossa mãe e com todos que nos precederam na fé. Quem não se alegra pensando que, de novo, as pessoas queridas de nossa família, de nossa amizade, hão de se reunir?
O céu é uma festa sem fim, onde não haverá mais nem morte, nem luta, nem dor. Cessarão a violência, o egoísmo e todo pecado. Ficará só o amor entre todos. Enquanto aguardamos o dia do encontro feliz temos, neste mundo, a tarefa de superarmos distâncias e injustiças e de estreitarmos, pelo amor gratuito e universal, os laços da fraternidade que nos unirão para sempre.
Quem acredita na felicidade eterna já se esforça para viver a caridade neste mundo, fazendo o bem e transformando cada dia a sociedade, antecipando, assim, o reino de Deus.
No próximo domingo o calendário litúrgico comemora a "Festa de Todos os Santos". Lembremo-nos dos que já estão plenamente em Deus e, em especial, daqueles cuja vida nos dá exemplo de virtude exímia, imitando mais de perto o amor de Jesus Cristo. Mártires, firmes na fé. Servidores incansáveis dos doentes, empobrecidos, encarcerados.
Pais e mães, dedicados heroicamente a seus filhos. Homens e mulheres que souberam amar e perdoar a quem os ofendia. Alegremo-nos na certeza de que intercedem por nós junto a Deus, aguardando, também eles, o dia em que nos encontraremos.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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