São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Sucessor põe a Weg na trilha do mercado global

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma bolada equivalente a US$ 7 milhões será distribuída neste ano entre os 7.600 funcionários do grupo Weg, líder do mercado de motores elétricos. Em vigor desde 1991, a distribuição de 12% dos resultados anuais do grupo segue regras precisas: 50% são rateados entre todos os colaboradores; 25% vão para as equipes de empresas lucrativas e 25% para as que atingem as metas.
"De nada adianta marcar gol sozinho", costuma dizer o presidente Décio da Silva, 39. "A grande responsabilidade dos bons é contribuir para elevar o nível da equipe". O método de avaliação adotado na Weg se espelha na realidade do mercado. Cada departamento julga a performance de outro, assim como fazem os clientes em relação aos fornecedores.
O programa foi adotado em 1991, justamente quando a Weg registrou o primeiro vermelho no balanço em três décadas de existência. "Fomos apanhados pela recessão, que reduziu em 40% a demanda de bens de capital", conta ele. Só pôde ser viabilizado a partir do ano seguinte.
Diplomado em engenharia mecânica e administração de empresas, filho de Eggon da Silva, um dos três fundadores do grupo, sediado em Jaraguá do Sul (SC), Décio fala com orgulho dos avanços atribuídos ao programa de gestão participativa, coroado pela distribuição de lucros, que ajudou a implantar.
"O número de motores produzidos por funcionário saltou de 2,07 em 1993 para 2,5 em 1994 e 2,69 neste ano", revela. Já o índice de defeitos nas peças caiu de 9 em 1.000 para 4,5 até 1994.
O envolvimento dos funcionários ocorre dentro dos 166 grupos formados por 30% do contingente da Weg. "Hoje se fala tanto em qualidade... mas quanto custa desperdiçar idéias?", indaga Décio.
Estimulados a reduzir custos, melhorar o ambiente de trabalho e incrementar a qualidade, esses grupos geram mais de mil idéias por ano, implantadas e contabilizadas.
Para que as novidades não fiquem entre os muros e para gerar reconhecimento, a empresa organiza uma feira anual -que atrai 10 mil pessoas, em geral familiares dos funcionários.
Os dez grupos vencedores são recompensados com viagens para outros Estados, que combinam visitas técnicas, lazer e turismo.
Na cruzada para dobrar sua produção e atingir 5 milhões de unidades em 1997, a Weg -que fabrica de motores de máquina de lavar roupa a sistemas de automação industrial- investe US$ 150 milhões, dos quais US$ 2 milhões anuais em treinamento.
Após ter erradicado o analfabetismo, a meta do grupo é contar com 100% de colaboradores com primeiro grau completo até o ano 2000. "Essas práticas estão há muito arraigadas na companhia. Eu próprio me formei em mecânica, aos 12 anos, em nosso centro de treinamento", diz Décio.
A empresa foi a 14ª no país a obter o certificado ISO 9000, indispensável para quem elegeu a internacionalização em seu planejamento estratégico.
Com filiais na Argentina (onde domina 40% do mercado), Bélgica, Alemanha, Japão e EUA, a Weg acaba de inaugurar outra na Austrália. Elas são operadas por dez profissionais, em sistema de rodízio.
"Queremos desenvolver nosso pessoal na cultura global", diz Décio. Se o planejamento da empresa revelar precisão, dentro de dois anos as exportações passarão a representar 35% das vendas, contra os atuais 20%.
Seus produtos são conhecidos pela marca original, registrada em 50 países. "Jamais abrimos mão da marca", diz Décio. "Poderíamos ter crescido mais rapidamente no mercado externo se a produção fosse limitada a encomendas para terceiros."
O empresário estima que a empresa já tenha exposto seus produtos em 130 feiras internacionais. "Estamos de olho na China."
"A empresa vem se preparando para a concorrência com importados desde 1970, quando iniciou suas exportações", afirma o presidente. "Vendíamos para mercados exigentes e possuímos certificação de qualidade dos países mais desenvolvidos."
Um cacoete de Décio é sempre usar a primeira pessoa do plural. É outro traço da cultura da Weg. "Os três sócios decidiram conduzir uma gestão profissionalizada."
Para evitar que as relações entre os herdeiros interferissem negativamente no crescimento da empresa, foi contratado um consultor, encarregado de monitorar o processo sucessório.
O modelo nada teve de convencional. Décio foi guindado à presidência, quatro anos atrás, em eleição da qual participaram familiares envolvidos na operação e executivos profissionais.
"Nosso negócio agora evolui da fabricação de motores isolados para sistemas completos", diz Décio. "Queremos fortalecer nossa posição no mercado eletrônico."
A Weg, que produz controladores programáveis (computadores que controlam, por exemplo, velocidades de máquinas), quer assegurar sua fatia nessa onda. Os volumes de programas (softwares) já competem com os de equipamentos (hardware). "Amanhã vão superá-los".

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