São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Excesso prejudicial

SÍLVIO LANCELLOTTI

Domingo, na capital da Bota: Lazio 4 x 0 Juventus de Turim. Em Lyon, na França: Lyon 1 x 1 Bastia da Córsega. Detalhe: o Lyon corre o risco de cair à Série B no Campeonato Francês.
Meio da semana, na Europa: na Escócia, Glasgow Rangers 0 x 4 Juventus, a "Senhora" líder na sua chave da Copa dos Campeões; em Roma, Lazio 0 x 2 Lyon, a Lazio eliminada da Copa da Uefa.
Como explicar tais revoluções em um intervalo de 96 horas?
Sérgio Campana, o presidente da Associazione Italiana Calciatore, o equivalente ao sindicato dos jogadores da Bota, ensaia uma resposta: "Há cada vez mais torneios na Europa, os calendários já estão congestionados. E os atletas correm cada vez mais os riscos da contusão e/ou da exaustão."
Tem razão Sérgio Campana. Eu me lembro dos tempos do Santos glorioso, que fazia uma centena de jogos ao ano enquanto os times da Europa não disputavam mais de 50. Naqueles idos, a Europa se orgulhava de calendários enxutos e ironizava as excursões caça-níqueis dos times sul-americanos.
Hoje, por mais organizado que pareça o futebol europeu, os antigos extremos se tocam e se superpõem. Acompanhe os números.
Em meia década, a Europa ampliou de 33 para 49 o número de federações afiliadas.
Cresceu bastante a quantidade de combates interclubes e inter-seleções. Além disso, pressionadas pelas necessidades financeiras, as federações multiplicaram o número de equipes de primeira divisão.
Até 1988, a Itália ostentava 16 agremiações na sua Série A. Hoje elas são 18. Ou seja, 34 prélios por campeonato nacional. Somem-se mais 6, em média, na copa da Bota. Outros 6, em média, nos interclubes. Mais 10, entre amistosos e jogos de seleções. Outros 10 prélios de preparação.
Bons jogadores, de primeira linha, hoje, na Europa, participam de 60 ou 70 combates em um intervalo de dez meses -média de quase 7 por período.
Verdade que os bons jogadores ganham salários e prêmios de fato majestosos, no mínimo na casa dos US$ 100 mil ao ano. Acabou-se a era romântica, do amor puro e eterno a uma camisa só.
De todo modo, o excesso nivela por baixo. O excesso dilui as rivalidades, exaure o peso dos grandes confrontos clássicos. A Europa hoje erra, como sempre se equivocou a América do Sul. Quem se interessa por um embate entre São Paulo e Cruzeiro que pode se repetir quatro vezes em um mês?

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