São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Remédio pode combater doença neurológica

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Noticia Andy Coghlan na revista britânica "New Scientist" que, em reunião sobre doenças do neurônio motor realizada em Talloires, França, uma empresa farmacêutica, a Cephalon, da Pensilvânia (EUA), apresentou resultados até certo ponto favoráveis com a ministração de um fator de crescimento nervoso a pacientes com doença do neurônio motor.
Os dados não permitem, todavia, a esperança de curar o mal.
Por doença do neurônio motor entende-se uma degeneração generalizada das células nervosas (neurônios) que transmitem aos músculos os sinais elétricos para o movimento.
Nos doentes, essa transmissão vai cessando, e os músculos vão perdendo a atividade e se atrofiando. Há vários tipos ou graus da moléstia, sendo o mais grave a esclerose lateral amiotrófica, que pode evoluir em quatro anos com morte por paralisia respiratória.
Essa esclerose tornou-se muito conhecida do público por haver atacado personalidades célebres, como o ator David Niven, o famoso jogador de beisebol Lou Gehrig e, principalmente, o grande físico britânico Stephen Hawking, que tem levado vida artificial assistido por dispositivos mecânicos e eletrônicos.
Em sua cadeira de rodas parece um robô, embora com as faculdades mentais perfeitas que lhe permitem desenvolver suas ousadas especulações físicas e cosmológicas.
Tem escrito também obras de divulgação científica que atingem circulação fabulosa em todo o mundo. Escreve-as, diz, para pagar a conta da enfermagem.
Na Cephalon, Michael Murphy realizou experiência em 266 pacientes que foram divididos em dois grupos, um dos quais recebeu doses de 0,05 miligramas a 0,1 miligramas de uma droga chamada miotrofina, recebendo o outro grupo simples placebo, preparação que imita por fora a outra, mas é desprovida de qualquer ação.
A miotrofina é o primeiro medicamento de uma nova geração de produtos e constitui versão, obtida por engenharia genética, de fatores de crescimento nervoso produzidos no músculo e denominados, de acordo com sua função, "fator de crescimento número um semelhante à insulina" (IGF-1).
Já se demonstrou, em cultura de células, que o IGF-1 ajuda a regeneração do neurônio motor.
O grau de melhora dos paciente é avaliado pela escala Appel, que vai somando pontos relativos às deficiências musculares observadas (mastigação, deglutição, fala, respiração etc.). Quanto maior o total de pontos, mais grave é o estado do paciente.
Uma pessoa normal costuma atingir 30 pontos, ao passo que um enfermo grave pode alcançar 125. Os pacientes com placebo em geral ganham 20 pontos nos seis primeiros meses, nível que não foi atingido por nenhum dos pacientes ao fim de nove anos de tratamento com as doses mais altas.

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