São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995 |
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O outro desafio do Vietnã
CLÓVIS ROSSI
Pelo menos para as gerações que têm hoje 40 anos e mais, essa será, com certeza, uma sensação inescapável a saltar das páginas de "A Nova Guerra do Vietnã", o livro do jornalista Jaime Spitzcovsky que a editora Ática está lançando. Para essa geração, como escreve Spitzcovsky, hoje correspondente da Folha em Pequim (China), "provavelmente nenhum país e nenhum povo, condenado pela geografia à periferia do mundo, atraiu tantos holofotes para si e conquistou tanta simpatia ou aversão". Hoje, passados meros 20 anos, um nada em termos históricos, "o Vietnã fala economia, não fala guerra", descreve o autor, em um belo trabalho de reportagem. Nos detalhes descritos por Spitzcovsky, dá até para suspeitar que os perdedores da guerra, os Estados Unidos, estão ganhando a paz. Até as laterais do ônibus que leva os passageiros do avião ao terminal de desembarque no aeroporto estão vendidas a um símbolo do antigo inimigo (a Pepsi Cola), relata o jornalista. Mais: personagens de Walt Disney enfeitam até mesmo os copos que decoram a mesinha de centro da sala em que Spitzcovsky entrevistou o segundo maior símbolo do Vietnã guerreiro, o general Vo Nguyen Giap (o primeiro símbolo é, óbvio, Ho Chi Minh). O livro deixa claro, no entanto, que a guerra, por mais que pareça enterrada em um passado distante, deixou marcas indeléveis. O jornalista relata o drama dos ameriasiáticos, os filhos de militares norte-americanos e mulheres vietnamitas, deixados para trás quando da retirada norte-americana, em 1975. E descreve também os problemas de saúde que ainda enfrentam as vítimas dos ataques norte-americanos com napalm, o gás desfolhante utilizado na guerra. O livro parece ter sido construído como se fosse um minijornal sobre o Vietnã, dividido pelas seções convencionais da maioria dos jornais. Vai das sensações do jornalista ao desembarcar até o "capitalismo comunista", o capítulo que trata da economia vietnamita hoje, passando pelo personagem (o general Giap). Por "a nova guerra do Vietnã", que dá título ao livro, entenda-se o desafio para superar a pobreza, usado no subtítulo. Um desafio para o qual ainda valem (e não só para o Vietnã) os ensinamentos do velho guerreiro Giap: "Minha geração apagou a vergonha de termos perdido nossa independência e agora é a sua vez de apagar a vergonha de sermos um país pobre e atrasado". Texto Anterior: PAULO FREIRE; CINEMA Próximo Texto: Paradoxos da democracia brasileira Índice |
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