São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Defesa; Democracia peruana; Desconhecimento; De longe

DE LONGE

Defesa
"A edição do último dia 10 contém editorial com o título 'Escárnio', onde sou vilipendiado por uma manifestação de perplexidade frente à inquirição de um jornalista questionando a lisura de uma proposta de emenda que eu apresentara, em 1994, ao Orçamento de 1995, objetivando viabilizar uma operação 'tapa-buraco' no trecho Pelotas/Jaguarão da rodovia BR/116, uma ligação com o Uruguai que compõe a rede viária do Mercosul. Dada a importância dessa estrada e o colapso do seu pavimento, o governo federal incluiu-a em um plano emergencial de recuperação, abrindo, em 1993, as licitações para a execução dos serviços por meio de três contratos, com prazo estipulado de um ano, mas, mesmo assim, não colocou qualquer recurso no Orçamento de 1994, nem, em valor suficiente, na sua proposta orçamentária para 1995, levando a comunidade interessada a sugerir a sua viabilização pela via de emenda legislativa. Apresentada a emenda, em 1994, dela não mais tomei conhecimento. Somente quando o citado jornalista informou-me da aprovação da emenda questionando a sua correção ética porque a Construtora Pelotense Ltda., empresa de que sou sócio, é detentora de um dos três contratos em que poderiam ser utilizados os recursos nela previstos, é que soube da aprovação. Diante de tal inquirição fiz a seguinte indagação de espanto, que despertou o 'santo' furor do editorialista: 'Eu tenho uma empresa. Trabalha numa estrada, para o país. Não posso fazer uma emenda para liberar recursos para a obra? Isso vai parecer escuso? Meu Deus, em que país estamos?'. Sobre ela foi produzido o editorial que inicia com o seguinte comentário: 'Esta pergunta, quem deveria fazer são todos os demais brasileiros que não têm o poder de decidir quanto dinheiro público vão destinar às suas empresas'. Aqui está a raiz do equívoco que originou a difamatória indignação do autor. De onde tirou ele a suposição de que os recursos públicos oriundos da emenda foram ou irão para a empresa de que sou sócio? Para onde vai o dinheiro público investido em uma obra como a construção de um hospital? Para a viabilização de um local onde se possa tratar os doentes ou para o bolso da construtora que o edificou? Para onde vai o recurso público de uma campanha de erradicação da fome? Para ajudar a erradicar a fome ou para o bolso do jornal que, com grandes custos, viabiliza a sua divulgação? Bastaria eu ter pedido a um colega para assinar a emenda, em uma atitude de escamoteamento, para desaparecer a surrealista acusação e me transmutar, segundo a exótica visão do autor, de 'execrável' em modelo ético de parlamentar. O mais incrível, porém, é que os recursos oriundos da criticada emenda destinaram-se totalmente aos dois outros subtrechos contratados, não tendo sido usado um centavo sequer de verba com origem em qualquer emenda parlamentar no contrato da Construtora Pelotense Ltda. Quanto ao autor do editorial, se for um homem bem-intencionado, não devo por ele nutrir o sentimento de rancor, mas o da tolerância, embora com profunda inconformidade e indignação com a sua lamentável pretensão de sábio, ao se apresentar como o herói da moralidade pátria, o dono da verdade, aquele que pode, brincando com palavras articuladas, denegrir a dignidade de um homem comum apenas por ter lido três linhas a ele atribuídas, sem saber se verdadeiras, o que significam, ou mesmo o que com elas quis ele dizer e, pior ainda, sem lhe dar o sagrado direito de defesa prévia, em um julgamento tão arrogante quanto injusto."
Luis Roberto Ponte, deputado federal (PMDB-RS) (Brasília, DF)

Nota da Redação - "Eu tenho uma empresa. Trabalha numa estrada para o país. Não posso fazer uma emenda para liberar recursos para a obra?". Esse é um comportamento ético?

Democracia peruana
"Sobre o artigo 'Fujimorização à moda tucana', de autoria do sr. Ives Gandra da Silva Martins, publicado em 31/10: tenho a impressão de que o sr. Martins não está muito bem informado sobre a situação do Peru nem teve tempo suficiente para ler com o devido cuidado a entrevista e a crônica publicadas neste jornal, no domingo 29 do corrente, que ele mesmo cita. Ninguém duvidou da limpeza das eleições gerais realizadas no Peru em 9/4. As eleições contaram com a presença de uma Missão Observadora da OEA, bem como de uma longa lista de ONGs, que confirmaram que haviam sido justas e imparciais. Como se isso não bastasse, no dia 26/10 o chefe da citada missão da organização regional declarou em Lima: 'Estou certo de que esse processo -eleições municipais que se efetuarão em 12 de novembro- será tão transparente como o foram as eleições gerais de 9/4'. Por outro lado, na entrevista publicada na Folha de domingo, o presidente do Peru, engenheiro Alberto Fujimori, explica que viu-se obrigado a tomar 'medidas drásticas' porque o país 'vivia uma situação grave' e as instituições existentes naquele momento não eram capazes de enfrentar a crise que atravessava o país, especialmente o fenômeno terrorista representado pelo Sendero Luminoso e pelo Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), e o descalabro econômico, com suas sequelas sociais. Mais adiante o presidente Fujimori, na mesma entrevista, explica sua concepção sobre democracia. Em nenhuma parte se encontra qualquer referência em que declare que não se pode governar com democracia. Ademais, apóia essa posição na realidade peruana, pois nas últimas eleições gerais, tanto para presidente como para congressistas, as duas chapas mais votadas foram as de alianças independentes -'Cambio 90-Nueva Mayoría' e 'Unión por el Perú'-, enquanto os partidos tradicionais obtiveram uma porcentagem de votos tão baixa que praticamente desapareceram do mapa político do Peru e, para participar em próximas eleições, deverão inscrever-se novamente, conforme o disposto na Lei Eleitoral. O presidente Fujimori, muito pelo contrário, amplia o conceito de democracia, a qual não deve limitar-se à formalidade do voto, fazendo-se necessário que ela também abranja outros aspectos, tais como a igualdade de oportunidades, o bem-estar econômico e o acesso às facilidades sociais, ou seja, aos serviços básicos, saúde e educação."
Alejandro Gordillo Fernandez, embaixador do Peru (Brasília, DF)

Desconhecimento
"Tendo em vista reportagem publicada em 3/11 na Folha, sob o título 'Governo estuda nova ajuda a usineiros', esclareço que o vice-presidente da República, Marco Maciel, em viagem ao exterior, ao tomar conhecimento do texto manifestou surpresa com o seu conteúdo e informou desconhecer completamente o assunto. Peço esclarecer os leitores da Folha."
Roberto Parreira, chefe do gabinete da Vice-Presidência da República (Brasília, DF)

"Fiquei muito surpreso quando encontrei a Folha na Web. O único problema é que não tem o mesmo cheiro e contato do próprio jornal. Como seja, me dará a chance de ler as notícias brasileiras. Estou aqui no Canadá, Toronto, desde dezembro, 1966. Recebemos visita da família e, de vez em quando, alguns amigos. Nunca falha, eles trazem a Folha. Agora que achei a Folha na Web vai ajudar o meu português. Continuem com a Folha na Web. Vocês encontraram um novo fã."
Jerry Mouchian (Toronto, Canadá)

"Parabéns pelas excelentes Folha e Folhinha Web. Como pai de adolescentes sugiro a Folha Teen-Web."
Marcelo B. Teive (Florianópolis, SC)

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