São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Advogada cigana inspira personagem

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Como a personagem Dara, interpretada por Tereza Seiblitz em "Explode Coração", ela também rompeu a tradição cigana para estudar e viver o amor com um "gadjô" (não cigano). A diferença é que a história da advogada Miriam Stanescon, 48, é real.
Foi ela quem inspirou Glória Perez na composição da cigana Dara.
Miriam afirma que foi a primeira mulher dos núcleos ciganos brasileiros a cursar faculdade.
A advogada conta que começou a enfrentar o "machismo cigano" aos sete anos, quando sua mãe não deixou que ela jogasse bolinha de gude com os meninos.
"Vesti um calção do meu irmão e continuei jogando. Levei muita surra, porque desobedecia e fazia o que era proibido", diz Miriam.
Depois da faculdade, o casamento foi outra briga. Ela se apaixonou por um empresário "gadjô", insistiu com os pais e se casou.
Cumpriu todo o ritual do casamento, que inclui uma festa de três dias e a exibição do lençol sujo do sangue da noiva virgem.
"A diferença é que as mulheres ciganas, quando queriam casar com não ciganos, fugiam e abandonavam seu povo. Eu quis continuar cigana, discordando do que achava errado", afirma.
Miriam diz que muitas das tradições ciganas, inclusive o casamento arranjado e a proibição do estudo para as mulheres, ainda sobrevivem.
Mãe de duas filhas, a advogada afirma que ensina a elas as tradições do povo cigano, mas permite que as garotas estudem. Conseguiu, também, com que duas de suas sobrinhas cursassem faculdade.
A advogada vai lançar o livro "Lilá Romani" (Cartas Ciganas), com tradições do povo cigano. Entre elas, um chá místico ao qual deu o nome Rorarni, seu próprio nome em romanês, a língua falada pelos ciganos.
Miriam conta que ficou comovida e chegou a chorar quando soube ter inspirado a personagem Dara. Ela ajudou na pesquisa histórica da novela e diz que espera que a trama não prejudique seu povo.
"O que eu espero é que contem as nossas tradições, boas ou más. E quero que o meu povo entenda que a evolução não significa o fim das tradições", afirma.

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