São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Saída de Cavallo seria 'desagradável'

CLÓVIS ROSSI; DENIS CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O governo brasileiro considera "desagradável" a perspectiva de uma mudança no comando da economia argentina, com a queda de Domingo Cavallo, o ministro da Economia desde 1991.
A expressão foi ouvida pela Folha junto à cúpula governamental, que andou sondando nos últimos dias a situação interna na Argentina em relação a Cavallo.
O "desagradável" é fácil de explicar: a saída de Cavallo tenderia a ser interpretada, nos círculos financeiros globais, como uma mudança na rígida política implementada pelo ministro e cuja pedra de toque é a paridade fixa (1 peso = US$ 1) desde abril de 91. Com isso haveria a repetição, embora atenuada, do terremoto que sacudiu o México em dezembro.
A avaliação das autoridades brasileiras, segundo apurou a Folha, é a de que Cavallo chegou a ser um paciente em "estado terminal" até o final da semana passada.
Depois, teve um encontro, que deveria ser reservado, com o presidente Carlos Menem, na quarta-feira, e teria ganho uma "sobrevida". Mas há pouca expectativa de que esta seja longa, dado o bombardeio que o ministro sofre dos próprios aliados de Menem.
O último petardo foi disparado ontem pelo líder do Partido Justicialista (de Menem) na Câmara de Deputados, Jorge Matzkin.
"Cavallo tem dois esportes: pela manhã, caminha por Palermo (parque) e, à tarde, critica o Congresso. Seria bom que caminhasse mais", disse Matzkin ao matutino conservador "La Nación".
Brasileiros já apostam em um nome específico para substituir Cavallo. É o do economista ultraliberal Roberto Alemann, que foi ministro da Economia durante a mais recente ditadura militar argentina (a do período 76/83).
Alemann é tido como de grande credibilidade no circuito financeiro internacional. Os dois principais jornais argentinos ("Clarín" e "La Nación"), porém, informam em suas edições de ontem que Alemann rejeitou duas sondagens, nos dias 27 e 30 de outubro, para substituir Cavallo.
O "Clarín" chega a dizer que até FHC se interessou pela saúde política de Cavallo, em "contato à distância" com Menem.
(Clóvis Rossi e Denise Chrispim Marin)

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