São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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MST cobra assentamento de 3.500 famílias

ESTANISLAU MARIA; CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURIONÓPOLIS (PA)

Uma manifestação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) reuniu ontem cerca de mil pessoas em Curionópolis (650 km ao sul de Belém).
Os sem-terra reivindicaram a desapropriação da fazenda Macaxeira -46 mil hectares- e o assentamento imediato das 3.500 famílias. A fazenda fica em Carajás (700 km ao sul de Belém).
Além disso, eles querem 850 cestas básicas durante um ano, linhas de crédito para plantio e a regularização imediata da fazenda Rio Branco, em Parauapebas (650 km ao sul de Belém).
O MST organizou a manifestação para aproveitar a visita na região do presidente do Incra, Francisco Graziano. O MST ameaçou invadir a fazenda Macaxeira.
Cerca de 3.500 famílias de sem-terra -aproximadamente 12 mil pessoas- podem começar a invasão hoje. Graziano disse que não havia seguido para Curionópolis para discutir sobre a fazenda Macaxeira. Afirmou ainda que o Incra não vai apoiar novas ocupações.
O presidente do Incra disse que a compra da fazenda Rio Branco aconteceu devido a uma situação emergencial -o Incra gastou R$ 8 milhões.
Segundo Graziano, essa solução não será repetida no caso da Macaxeira. Ele afirmou também que seguiu para Curionópolis para anunciar aos sem-terra a compra da fazenda Rio Branco.
O presidente do Iterpa (Instituto de Terras do Pará), Ronaldo Barata, disse que os colonos devem procurar outra área. "A fazenda Macaxeira é terra produtiva e não há como desapropriá-la", disse.
Ronaldo Barata acrescentou que o próprio Incra poderia apontar as terras disponíveis no sul do Pará.
Omalício Araújo Barros, líder do MST, disse que o movimento no Pará não aceitaria um acordo semelhante feito com os sem-terra no Pontal do Paranapanema, em São Paulo.
"Só neste ano já morreram cem companheiros", disse Barros. "Nossa paciência acaba neste ano e não esperamos mais. No ano que vem, faremos duas ocupações em média por mês", disse.
Verbas
Graziano assinou ontem em Altamira (PA) convênios para a liberação de R$ 1 milhão para construir e recuperar estradas que servem aos assentamentos.
O prefeito de Altamira, Maurício Bastazini, 42, afirmou que o dinheiro vai beneficiar cerca de 20 mil famílias, em dez municípios.
Na visita de Graziano a Altamira, o Incra fez convênios com dez prefeituras da região e também com o Iterpa, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará e Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira).
As dez prefeituras beneficiadas com os convênios receberão em média R$ 100 mil do Incra, e em troca vão ceder máquinas e funcionários para as obras nas estradas.
Graziano pretendia se reunir ainda ontem à noite com lideranças do MST.

Colaborou CRIS GUTKOSKI, da Agência Folha, em São Luís

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