São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Detentas não têm direito a visita íntima

DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres ainda não têm direito ao sexo atrás das grades. As visitas íntimas, permitidas aos presos há quase dez anos, continuam proibidas nas prisões femininas.
Só na Casa de Detenção, 14 mil mulheres estiveram no pavilhão dos presos autorizadas para fazer amor. Nesse período, as 2.700 mulheres presas no Estado nunca receberam homens nas celas, pelo menos oficialmente.
A discriminação contra as presas ainda não sensibilizou as feministas. Vários grupos ouvidos pela Folha nunca colocaram o assunto em pauta, enquanto o amor atrás das grades já virou bandeira de padres, médicos e delegados ligados ao sistema penitenciário.
"As mulheres presas têm as mesmas necessidades e os mesmos direitos que os homens", diz o padre Francisco Reardon, coordenador da Pastoral Carcerária.
"Quando uma pessoa é presa, a primeira coisa que se desestrutura é a família. A visita íntima humaniza a cadeia."
O padre Júlio Lancelotti, capelão da Casa de Detenção Feminina do Tatuapé, também defende o direito das mulheres.
"A mulher é discriminada também dentro do sistema penitenciário", diz. "Todos os documentos oficiais que falam de presos só se referem aos homens."
Manoel Schechtmann, diretor de saúde do sistema penitenciário, não vê razões para essa discriminação.
"Do ponto de vista médico, não há diferença de riscos e de direitos entre homens e mulheres. Os cuidados de prevenção devem ser os mesmos para os dois lados. Mas a visita íntima para as mulheres exige um acompanhamento médico maior."
A preocupação do sistema é com a gravidez. "Quem será o responsável pelas crianças nascidas no presídio senão o Estado?", pergunta o diretor da Casa de Detenção, Luiz Philippe Florence Borges.
Sueli Paixão Rega, diretora do presídio feminino do Tatuapé, acha que as mulheres têm o mesmo direito, mas também se preocupa com a gravidez.
"Teríamos que colocar anticoncepcional na caixa-d'água." Além de tornar obrigatória -se isso fosse possível- o uso da camisinha. Entre as mulheres presas no Tatuapé, 45% são portadoras do vírus da Aids.
O delegado José Barbosa de Farias é titular do 42º DP onde estão presas 90 mulheres, 17 em cada cela. "Oficialmente, as visitas íntimas são proibidas aqui, mas não podemos avaliar o que acontece dentro do xadrez", afirma.
Diferente dos presídios femininos, onde as visitas não podem subir nas celas, nos distritos policiais as presas improvisam encontros íntimos, um gesto de solidariedade entre elas.
Durante as visitas, as presas vedam as grades com cobertores e ficam no pátio, cedendo a cela para aquela que tem marido ou companheiro.
"Nos presídios os homens fazem assim. Nada impede que as presas façam a mesma coisa", diz o delegado.

Texto Anterior: Aposentada reclama da Auto Tour
Próximo Texto: 'Mulher precisa de sexo', diz presa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.