São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Culpar o juiz pela derrota é falta de senso

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Corinthians perdeu o jogo, e, por certo, o senso. Sim, porque culpar o juiz pela derrota de sábado diante do Goiás é, no mínimo, perda da noção da realidade.
O juiz, Sidrack Marinho, realmente é cheio de lero-lero. É daqueles que fingem não perceber o olho da câmera de TV, mas criam o tempo necessário para closes e panorâmicas em profusão, antes de a bola rolar, nos dois tempos. No começo do segundo, por exemplo, fez tanta visagem -correu pra cá, pra lá, confabulou com o representante, postou-se no círculo central, fez o sinal da cruz, olhou para o infinito, esticou o braço e ali ficou um instante como estátua do ridículo.
Esquecera simplesmente de apitar o reinício da partida. Jogo feito, coluna do meio: errou tanto quanto acertou.
Mas, definitivamente, não causou a derrota corintiana. Nos lances decisivos, como no que resultou no pênalti desperdiçado por Magrão, ou na falta que resultou no primeiro gol do Goiás, agiu com acerto.
A verdade é que o Corinthians não anda jogando o suficiente desde a conquista do título paulista. Melhorou, sim, nesta segunda fase do Brasileirão. Mas não o bastante para merecer até agora a classificação. Isso porque as soluções tentadas para suprir as ausências de Bernardo e Viola não deram certo.
E mais: com as constantes contusões de Souza, que saiu de campo ainda no primeiro tempo, sábado, não há quem faça a ligação do meio-campo ao ataque com presteza e imaginação indispensáveis.
Quer dizer: até que há, se, por exemplo, Marcelinho fosse destacado para essa função. Mas Marcelinho, sábado, ficou de vigia do lado direito de sua defesa, já que Vítor tinha a tarefa de marcar João Paulo homem a homem.
Assim, embora no papel o Corinthians entrasse em campo com um meio-campo mais ofensivo, na prática, mal roçava a área inimiga. E foi por isso que perdeu. Só por isso.

A estréia de Juninho no futebol inglês, se não foi memorável, foi um sucesso. Afinal, de seus pés nasceu a jogada do gol do Middlesbrough, num lance típico de exata combinação de reflexos, habilidade e um lançamento preciso que colocou o centroavante escandinavo cara a cara com o goleiro.
Insisto, porém: êta futebolzinho feio esse dos ingleses, hein? Resume-se em estéril correria, muito carrinho, bolas longas lançadas a esmo e nenhuma engenhosidade.
Confesso que, tempos atrás, quando os ingleses começaram finalmente a pintar seus times com crioulos das ex-colônias e de lá mesmo, sorvi uma golfada de esperança. Em vão.
Apesar de os ingleses terem inventado o futebol moderno e produzido alguns talentos inexcedíveis em sua história, como Bobby Moore, Bobby Charlton, Kevin Keegan, George Best (irlandês) e sir Stanley Matthews, seguem praticando o mesmo jogo primário de sempre.

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