São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Revista italiana põe futuro em xeque

Cinema não reina mais, diz crítico

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É a vez da tradicional revista italiana "Cineforum" lançar seu número especial sobre o centenário (nº 346). Na capa, Buster Keaton vestido de marujo olha através de um binóculo e Keanu Reeves se concentra na pele de Johnny Mnemonic. A soma das duas figuras mais ilustra do que comenta o título: "Além do Século".
"Cineforum" não cumpre o anunciado. Sua edição comemorativa é antes um balanço do cinema atual do que um debate sobre o filme do futuro.
São quatro partes. A primeira ("Para Onde") frustra exatamente quem espera análises mais complexas sobre as perspectivas do cinema. Dois textos contudo se destacam. Bruno Fornara defende que vivemos na era do "quinto continente cinematográfico", em que se combinam o "cinema transparente de Hollywood", isto é, aquele que oculta a linguagem fílmica, e a produção "não-transparente", em que o discurso denuncia a própria dicção. Scorsese, Coppola, Carpenter e Tarantino seriam os profetas deste novo tempo.
Já Gualtiero de Marinis metralha: "o cinema não é mais a rainha da festa. (...) Quarenta minutos de CNN, duas horas surfando na Internet, um pouco de videogame e nosso homem caído na terra volta para casa com muito mais informações do que poderia tirar de todos os filmes que passaram no último festival de Cannes". A real questão transcende a restrita "quantidade de informações" por ele privilegiada. Marinis acerta o enunciado mas erra o desenvolvimento. Pena.
A segunda parte propõe uma pouco original "Geografia do Cinema". Scorsese é reconhecido como o mais influente diretor americano e o scorseseano Tarantino como o provável "Roger Corman do ano 2000". O francês Olivier Assayas ("Água Fria") e o húngaro Bela Tarr ("Satantango") são as revelações européias.
Por sua vez, o crítico Alberto Crespi pouco vê digno de destaque no que chama "O Resto do Mundo". "Os continentes do cinema (extra-europeu e extra-americano) seguem a deriva de sempre". Crespi chama atenção para a produção falada em dois grupos de línguas: o inglês "sujo", com sotaque, da Austrália, Nova Zelândia, Canadá, e o chinês também cheio de variantes, de Pequim a Hong Kong. Peter Weir e Peter Jackson, representam o primeiro grupo; Zhang Yimou e John Woo, o segundo.
A "Itália do ano 2000", segundo Tullio Masoni e Paolo Vecchi, tem por patronos Nanni Moretti ("Caro Diário"), Gianni Amelio ("Lamerica") e, com marcado exagero, Silvano Agosti ("O Homem-Projétil"). A lista de apostas é extensa, mas inclui vários nomes familiares ao espectador brasileiro: Daniele Luchetti, Mario Brenta, Paolo Benvenuti, Marco Risi, Ricky Tognazzi.
Na terceira parte, algumas dos jovens citados apresentam, em textos ou imagens, sua visão do cinema. Fecha a revista um abecedário com imagens marcantes, de árvore a zen. Mais uma vez, a última palavra ficou com a nostalgia.

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