São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Cherryl Studer traz revelação da voz

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Recital: Cherryl Studer, acompanhada ao piano por Jonathan Alder
Quando: 9 e 11 de novembro
Onde: Teatro de Cultura Artística
Programa: Rossini, Schubert, Brahms, Barber, Wolf e R. Strauss
Ingressos: De R$ 15,00 a R$ 140,00

A soprano norte-americana Cherryl Studer, 40, é um dos valores de mais rápida ascensão na cena lírica. Consegue reunir um belíssimo timbre a uma reconhecida versatilidade técnica, exercida indistintamente nos repertórios italiano e alemão. A seguir, trechos de sua entrevista à Folha por fax, desde Amsterdã.

Folha - A sra. é uma das raras cantoras capazes de cantar Wagner e Richard Strauss com a mesma facilidade que Verdi e compositores italianos. Em qual dos dois repertórios se sente mais à vontade?
Cherryl Studer - Acredito que Wagner e Strauss se adaptam melhor à minha personalidade mais íntima, embora eu não pretenda me limitar a eles. Grande parte dos papéis germânicos são heróicos e requerem um maior esforço intelectual para compreendê-los. Verdi, no entanto, representa um desafio vocal, e vencer esse desafio é bastante estimulante para qualquer cantora.
Folha - Puccini não está em seus planos, conforme a sra. declarou recentemente. Mas sua voz se adaptaria perfeitamente a papéis como o de Madame Buterfly e Flora Tosca.
Studer - Fui com frequência convidada, no início de minha carreira, a interpretar esses personagens, que de certo modo poderiam prejudicar minha voz. Não me sentia o suficientemente madura. Agora, já amadurecida, estranhamente convites parecidos não foram feitos.
Mas em concertos, acompanhada ao piano, interpreto árias de "Adriana Lecouvreur", de Cilea, que possui um estilo semelhante ao de Puccini.
Folha - Qual o espaço que Mozart ocupa em sua carreira?
Studer - Mozart é o compositor-chave no processo de aprendizado de 90% dos cantores líricos.
Ele é insuperável para o aperfeiçoamento do tom, controle da respiração e alcance de expressividade. Ele é também o compositor ao qual se deve retornar com frequência para verificar até que ponto a voz da gente permanece intata.
Folha - Que tenor a sra. gosta de ter como parceiro no palco?
Studer - Já cantei com quase todos os grandes tenores e gostei de cada um deles por suas qualidades específicas.
Apesar da maledicência segundo a qual o tenor não precisa ser muito esperto para soltar aqueles sons agudos, eu posso afirmar que foram eles os mais inteligentes de meus colegas.
Uma das chaves do sucesso está em, por breves momentos, a soprano se mostrar fascinada pelo tenor. Isso dá a ele a segurança necessária para se criar uma tensão útil à boa interpretação.
Folha - Em termos de maestro, qual deles mais a impressionou em sua carreira?
Studer - Tenho imensa admiração por George Pretre, com quem trabalhei em Salzburgo em junho último. Ele possui uma maneira muito mais livre e flexível de sentir a música.
Ele privilegia o fraseado com relação ao tempo. Foi uma excelente lição, numa época que confunde rigor com ortodoxia.
Folha - A sra. gosta mais de se apresentar sozinha, acompanhada de um piano, ou numa montagem operística completa?
Studer - As grandes produções operísticas estão ficando cada vez mais frustrantes para os cantores.
Há mil sutilezas nas partituras que exigem um conhecimento aprofundado da música, mas os diretores cênicos raramente são capazes de compreendê-las.
Folha - Quais seus hobbies na vida privada?
Studer - Gosto de cozinhar e de brincar com minhas duas filhas (Senta e Elsa). Considero-me muitas vezes tão criança quanto elas.
Não são a rigor hobbies. Fora isso, eu e minha família adoramos música e não há maneira mais maravilhosa de passar o tempo.

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