São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Ato isolado é mais difícil de ser detido, dizem EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Serviço Secreto norte-americano com certeza vigiaria uma pessoa que interrompesse com agressões verbais um discurso do presidente dos EUA.
Esse comentário foi feito ontem pelo ex-secretário de Estado James Baker sobre o assassinato do premiê israelense, Yitzhak Rabin.
O suspeito do assassinato de Rabin, Yigal Amir, há dois meses atrapalhou com gritos uma conferência de Rabin em Israel.
No governo Reagan (1981-1989), Baker foi secretário do Tesouro e, nessa condição, supervisionou as ações do Serviço Secreto.
O Shin Bet (Serviço Secreto de Israel) não acompanhou as atividades de Amir depois de ele ter interrompido o discurso de Rabin.
Mas agentes do Serviço Secreto em Washington dizem que, quando uma pessoa resolve agir sozinha em atentado contra uma autoridade, é quase impossível impedir sua ação, exceto se a autoridade se mantiver isolada do público.
Ronald Reagan mesmo foi baleado em março de 1981 por James Hinckley, na época com 25 anos, como Amir agora. Hinckley agiu sozinho.
O atentado contra Reagan, como o de Rabin, ocorreu quando o presidente saía de compromisso público e ia para o seu automóvel.
Hinckley, que está preso em instituição psiquiátrica sem previsão de liberdade, atirou cinco vezes contra o presidente.
Segundo o Serviço Secreto, é muito mais fácil impedir atentados produzidos por conspirações do que atos de pessoas solitárias.
Uma possível prevenção de consequências mais graves em casos de atentados é o uso de um colete à prova de balas.
Yitzhak Rabin, como o presidente Bill Clinton, era o tipo de autoridade que inferniza a vida dos agentes encarregados de sua segurança por desprezarem seus conselhos e serem muito impulsivos.
Rabin, pelo fato de ter passado por inúmeras situações de perigo em guerras, parecia não achar que corresse risco, pelo menos não em seu próprio país, como no sábado.
Mas mesmo autoridades cooperativas com sua segurança, como era o caso de Reagan, não estão livres de atentados.
O governo de Israel nomeou comissão para investigar se o assassinato de Rabin poderia ter sido evitado e, em caso positivo, determinar como.
Parece haver consenso de que a crença disseminada em Israel de que israelenses não matam seus compatriotas pode ter relaxado a atenção dos guarda-costas de Rabin na noite de sábado, durante um evento doméstico.
O Shin Bet admite que sua prioridade no que se refere à segurança de Rabin se concentrava nas possíveis ações de grupos palestinos extremistas.
Essa preocupação se intensificou ainda mais nas duas últimas semanas, desde que o líder do Jihad, Fhati Chqaqi, foi assassinado em Malta, supostamente por agentes de Israel e por ordem direta de Rabin.
Os sucessores de Chqaqi haviam jurado vingança contra Rabin. O Jihad é uma das organizações islâmicas que se opõem ao processo de paz entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina.
É possível que o Shin Bet tenha subestimado o risco representado para o primeiro-ministro pelos grupos religiosos de extrema-direita de Israel.
Embora ainda não se saiba com certeza se Amir agiu em nome de algum desses grupos, é certo que ele tinha várias ligações com alguns deles.
(CELS)

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