São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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'Proteção total é impossível'

DO "LIBÉRATION"

Philippe Legorju, 45, foi diretor por quatro anos, na França, do Grupo de Intervenção da Gendarmaria Nacional, responsável pela proteção de personalidades como o ex-presidente François Mitterrand e o papa João Paulo 2º.
Para ele, os israelenses têm padrão de excelência na proteção física de suas personalidades e o atentado que vitimou Yitzhak Rabin é o resultado de uma falha quase impossível de ser evitada.
Eis sua entrevista:

"Libération" - De que tipo de segurança beneficiava um homem como Rabin?
Philippe Legorju - Uma segurança eficaz se fundamenta em três princípios: a humildade, a previsão baseada sobre a qualidade da informação sobre o adversário potencial e a adequação entre o dispositivo e a eventual ameaça.
Seja na França, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos ou em Israel, tal esquema pode contar com centenas de pessoas. Quando se trata de uma simples locomoção da personalidade de um local para outro, bastam 20 agentes.
Há um círculo de proteção próximo, com quatro a cinco agentes, e, num perímetro mais distante, núcleos de dois ou três outros.
Imaginemos que um único integrante de um desses núcleos seja inexperiente. Isso basta para que ocorra uma tragédia idêntica à de sábado em Israel.
Falhas de segurança podem acontecer em qualquer momento e com qualquer um. Lembremos o caso de Ronald Reagan, que sofreu um atentado (foi baleado) em 30 de março de 1981.
A atuação da segurança bem junto ao governante está muito ligada à concepção do Estado. Há países, como a Alemanha, em que o presidente ou o primeiro-ministro é tradicionalmente informal.
"Libération" - Os serviços de segurança de Israel devem ser responsabilizados pelo atentado desse último sábado?
Legorju - Seria uma injustiça para com eles. Em Israel, os esquemas de segurança atingiram patamares de excelência. Não acredito que eles tenham falhado na análise das circunstâncias em que uma ameaça poderia surgir.
Bem mais difícil é administrar o contato da personalidade com uma massa de admiradores durante um trajeto relativamente longo.
"Libération" - Como explicar que Rabin não estava vestindo um colete à prova de balas?
Legorju - Alguns políticos se recusam a vestir essa proteção por uma questão de princípio. Eles acreditam que fazê-lo seria demonstrar temor.
Rabin, a quem dei segurança em muitas de suas aparições em público, fazia parte desse tipo de homem. Ele possuía uma coragem pessoal admirável. Geralmente os governantes são pessoas corajosas. Há alguns teimosos, mas nunca totalmente irresponsáveis.
O maior perigo sempre está nos locais de passagem obrigatória, quando é necessário evitar a qualquer custo o "banho de povo".

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