São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Quer, mas não agora

CLÓVIS ROSSI

BUENOS AIRES - O presidente Fernando Henrique Cardoso quer a reeleição, sim, mas, como é óbvio, prefere que esse assunto seja tratado mais adiante, até porque tempo para tanto é que não falta.
Essa é a conclusão inescapável a que se chega das declarações sobre o assunto que deu ontem em Buenos Aires, as mais extensas a respeito.
FHC começou, como é de hábito, ironizando a Folha. O repórter deste jornal quis saber se o presidente iria demitir o ministro Sérgio Motta já que, na véspera, FHC havia dito que eleição não era assunto a ser tratado pelo ministro das Comunicações e o ministro das Comunicações não está fazendo outra coisa.
"Eu não sou diretor da Folha, que demite à primeira desobediência, não", brincou.
Depois, a sério, jogou a questão para o Congresso e quase exigiu que este tome uma decisão, já que foi o Parlamento que decidiu reduzir o mandato presidencial de cinco para quatro anos, mas sem direito à reeleição.
Por fim, lembrou que não se manifestara na época dessa decisão congressual porque não exercia o mandato de senador (era ministro da Fazenda). Mas comentou também quais seriam as suas manifestações, se senador fosse.
"Em dado momento, eu era favorável à reeleição. Mas, em outra época, era favorável a um mandato mais longo", afirmou.
Muito bem. O sistema atual não é nem de reeleição nem de mandato mais longo. Logo, não agradaria ao senador Fernando Henrique. É preciso muita ingenuidade para acreditar que agrade ao presidente Fernando Henrique.
Parte dois da novela: por que agora não é o momento de tratar do assunto? Porque é a hora das reformas, que estão meio devagar, e que o presidente considera essenciais para que o seu governo seja uma "refundação da República", conforme ele pretensiosamente afirmou anteontem, antes de viajar para Buenos Aires.
Feitas as reformas, vai se saber se a República será refundada ou afundada. No primeiro caso, uma reeleição cai muito bem, não é óbvio?

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