São Paulo, quinta-feira, 9 de novembro de 1995
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FHC indica Maciel para negociar mudanças

GUILHERME EVELIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu afastar o ministro Reinhold Stephanes (Previdência Social) e entregar ao vice-presidente Marco Maciel o comando das negociações da reforma previdenciária proposta pelo governo.
Stephanes incompatibilizou-se com o deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM), relator do projeto na Câmara. Na semana passada, os dois tiveram um bate-boca por telefone por causa do parecer de Ribeiro, que descaracteriza a proposta original do governo.
A animosidade entre ambos aumentou com as críticas públicas feitas pelo ministro à proposta do relator para que as mudanças na Previdência vigorem apenas para quem entrar no mercado de trabalho após a promulgação da emenda constitucional.
A idéia de o vice-presidente substituir Stephanes no comando da articulação para a aprovação da reforma foi levada ontem pelo líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE), e aceita imediatamente por FHC.
Ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto manobrou para conseguir mais tempo para negociar mudanças no parecer de Ribeiro.
O prazo de conclusão dos trabalhos da comissão especial que está analisando a proposta do governo, antes previsto para a próxima segunda-feira, foi esticado até o dia 30 deste mês pelo presidente da Câmara, deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA).
Inocêncio disse que o governo vai buscar um acordo sobre a reforma, porque não há interesse em entrar em conflito com o PMDB, partido do relator, e a praxe do plenário da Câmara é manter o parecer da comissão especial. "O governo sabe que para conseguir dois vai ter de ceder um", disse.
A discussão entre Stephanes e Ribeiro ocorreu depois que o ministro, há cerca de 15 dias, telefonou para o governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PPB), chefe político do relator, para queixar-se do parecer que ele pretende divulgar.
O deputado soube do telefonema e resolveu tomar satisfações do ministro. Segundo a Folha apurou, o ministro disse a Ribeiro que a comissão especial da Previdência se transformara num circo por estar realizando audiências públicas nos Estados.
O relator teria exigido mais respeito e lembrado a Stephanes que ele é também deputado e um dia pode deixar de ser ministro.
Apesar de Ribeiro negar o confronto, a relação com o ministro se deteriorou ao ponto de o relator, ontem, ter evitado ir a uma audiência conjunta sobre a reforma previdenciária que ambos teriam na comissão de Agricultura da Câmara. Ribeiro alegou outros compromissos para faltar ao encontro, ao qual só Stephanes compareceu.
O presidente da comissão especial, Jair Soares (PFL-RS), é outra pedra no caminho do governo. Ministro da Previdência do governo João Figueiredo (79-85), ele disse que pode dispor de um "arsenal de informações" contra a reforma.
"A Previdência não tem fé pública porque não tem estatísticas. Está desmoralizada", afirmou o ex-ministro.

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