São Paulo, quinta-feira, 9 de novembro de 1995
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Laudo indica cremação em Corumbiara

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Laudo de exame feito em Paris e divulgado pelo bispo de Guajará-Mirim (RO), d. Geraldo Verdier, conclui que são de origem humana alguns dos fragmentos de ossos encontrados em Corumbiara, no local do conflito entre policiais militares e sem-terra.
No confronto, ocorrido no último dia 9 de agosto na fazenda Santa Elina, morreram 12 pessoas: 10 sem-terra e 2 PMs. Os ossos foram encontrados no local por d. Geraldo.
O episódio gerou a suspeita de que corpos de trabalhadores mortos no conflito teriam sido cremados.
D. Geraldo disse que enviou o laudo para o procurador da República em Rondônia, Pedro Taques.
Segundo o bispo, o exame feito em Paris "leva a pensar" que os ossos poderiam ser de algum dos sete trabalhadores que estavam na fazenda no dia do conflito e que permanecem desaparecidos.
Em setembro, exame feito na Unicamp (Universidade de Campinas) concluíra que os ossos encontrados em Corumbiara eram de suínos e bovinos. Os ossos foram levados para a Unicamp pelo governador Valdir Raupp (PMDB), que os recebera de d. Geraldo.
Raupp afirmou que as mostras enviadas para a Unicamp foram lacradas na frente de testemunhas.
"A entrega dos quatro sacos foi vista pela imprensa, representantes do PT e o perito do Instituto de Criminalística do Estado", disse.
Em entrevista à Folha ontem, por telefone, o bispo disse que não poderia fazer acusações, mas ressaltou não ter visto os sacos com os ossos serem lacrados: "Não lacraram nada na minha frente".
Raupp achou "estranha" a diferença entre os laudos emitidos pela Unicamp e pelo hospital de Paris.
O secretário-adjunto de Segurança Pública de Rondônia, César Brizzano, desqualificou as mostras enviadas pela França.
Laudo
O laudo francês foi feito pelo Serviço de Anatomia e Citologia Patológicas -Medicina Legal da Faculdade de Medicina de Paris-Oeste.
Datado de 16 de outubro, o documento é assinado pelo chefe do serviço, o perito Michel Durigon. De acordo com o laudo, "duas entre as amostras examinadas são com muita segurança ('très vraisemblablement') de origem humana".
Ainda segundo o laudo, outros ossos são "certamente de origem animal" e outros não permitem conclusão definitiva.
No laudo, Durigon afirma que chegou à conclusão sobre a origem dos ossos com base em medições feitas nos "canais de Havers".
Esses canais permitem a circulação sanguínea dentro dos ossos.

Colaborou a Agência Folha

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