São Paulo, quinta-feira, 9 de novembro de 1995
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De Santa Rita a Aparecida

CARLOS SARLI

Ricardo Toledo começou a temporada 95 surfando com patrocínio das Antenas Santa Rita e, se eu não me engano, de um restaurante de Ubatuba. Venceu em Noronha.
No último fim-de-semana, com patrocínio da Go For It, conquistou o título brasileiro de surfe profissional ao chegar em sétimo lugar no Sea Club Final Heat.
Na verdade, Ricardinho alcançou o seu segundo título nacional. Junto com Tinguinha e Jojó, que não estão mais entre os Top-16 brasileiros, forma o time dos bicampeões, após nove anos de disputa. Por que, então, um cara com esse talento encontra dificuldade para fechar um bom contrato de patrocínio e se estabilizar?
Indisciplinado, inconsequente, imaturo, entre outros adjetivos, podem ser os argumentos de ex-patrocinadores. Lembro, em um outro Final Heat, em Florianópolis, ele disputando uma bateria no longboard. Ao ser anunciada uma interferência sua, ele não teve dúvida: na onda seguinte, olhar fixo nos juízes, chacoalhou os órgãos genitais. Ainda assim, ficou entre os finalistas da etapa, mas não foi à entrega do prêmio.
A Sea Club o patrocinava.
A rebeldia à la Edmundo me remete a outra colocação. Romário joga no time de maior expressão do país. Deve ser o maior salário e um dos passes mais valorizados. Sabemos também que ele é o estereótipo do bad boy.
Como, no futebol, dirigido por cartolas, em sua maioria velhos e retrógrados, o rebelde sem causa é aceito e até endeusado, enquanto no surfe, pretensamente na mão de empresários e dirigentes jovens, open mind, existe resistência a talentos, digamos, impulsivos?
Aos 27 anos, Ricardinho é um dos atletas mais bem preparados fisicamente do surfe brasileiro.
Casado, pai de dois filhos, ele vem dando mais atenção para o seu comportamento fora d'água.
Ainda assim, nas poucas horas que estive em Ubatuba, o flagrei mandando uma "banana" após completar uma manobra e soube do bate-boca com Peterson Rosa na bateria que lhe deu o título.
O esporte tem disso. É muita energia, adrenalina e tensão, e as válvulas de escape variam de pessoa para pessoa.
Ricardinho já deve estar no México atrás de preciosos pontos no WQS para tentar outra conquista importante no ano: subir para a primeira divisão.
De lá, segue para o Havaí. Na volta, vai pagar a promessa, junto com o pai, de andar de Ubatuba até Aparecida.

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