São Paulo, quinta-feira, 9 de novembro de 1995
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Lebrun expõe subsolo da filosofia de Kant

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quais os limites da razão? E de que forma são estabelecidos e articulados no pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant?
Durante quase duas horas, o professor francês Gérard Lebrun tentou responder essas questões, na noite de anteontem, na palestra "O Subsolo da Crítica".
O auditório, com capacidade para 84 pessoas, estava lotado. Sua exposição é parte do ciclo de palestras "A Crise da Razão", organizado pela Funarte.
O professor Lebrun, que durante seis anos lecionou na Universidade de São Paulo-entre 1960 e 1966-, é um dos maiores historiadores da filosofia.
Atualmente lecionando em Aix-en-Provence, na França, Lebrun é autor de "Kant e o Fim da Metafísica" e "O Avesso da Dialética", entre outras obras, que serviram como livros de formação para uma geração de filósofos.
Enquanto esperava para dar início à palestra, Lebrun disse à Folha que preferia se manter em silêncio sobre o suicídio do também filósofo Gilles Deleuze, ocorrido em Paris no último sábado.
"O Caso Deleuze" era um dos temas frequentes na platéia que aguardava sua entrada: "Eu não gostaria de falar nada. Ainda mais sobre uma situação tão triste. E acho que Deleuze não apreciaria pronunciamentos".
Mas, ainda que involuntária, sua palestra se ligou, ao menos no tema, a um dos trabalhos clássicos de Deleuze: "Para Ler Kant".
Lebrun iniciou, às 19h41, uma introdução sobre os conceitos da "Crítica da Razão Pura" de Kant. Falou sobre de que forma este trabalho, que estabelece a impossibilidade da metafísica como ciência, tem raízes em um trabalho anterior: a "Dissertação de 1770".
Segundo Lebrun, "Dissertação" mostra que Kant ainda acreditava em um conhecimento metafísico, um saber especulativo sobre temas como Deus e a alma, que será mais tarde rompido.
Mas, que nunca deixaria de percorrer a obra do filósofo, se estabelecendo o que Lebrun chama de "uma crítica subterrânea".
Lebrun prosseguiu mostrando que, ao contrário do que afirmam alguns comentadores, os limites impostos pelo filósofo à razão (demonstrando o que é possível conhecer) cumprem a tarefa de arrancar o homem de seu antropocentrismo. Sua exposição terminou às 21h26, quando foi permitido ao público fazer perguntas.
Como não houve qualquer manifestação, o professor Gérard Lebrun pediu licença a todos para contar algo que, segundo ele, tinha pouco a ver com Kant.
Lebrun falou sobre sua volta ao antigo prédio da rua Maria Antonia: "Gostaria de falar sobre a minha experiência de hoje a tarde, minha caminhada do largo do Arouche até a Maria Antonia. Algo que não fiz por razões sentimentais, mas que me emocionou muito. Voltar ao lugar onde lecionei há quase 30 anos, onde o presidente da república passou sua tese... voltar foi emocionante".
A palestrante de hoje no ciclo "A Crise da Razão" é a psicanalista e jornalista Maria Rita Kehl, que fala sobre a existência de uma razão feminina. No Rio, a palestra será feita pelo professor francês Jacob Rogozinski, com o tema "A Razão e o Terror".

O ciclo de palestras "A Crise da Razão" acontece em São Paulo, às 19h30, no Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 284, tel. (011) 255-7182); no Rio, no Núcleo de Estudos e Pesquisas da Funarte (r. da Imprensa, 16, 5º andar, tel. (021) 297-6116)

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