São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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Ironia conduz a nostalgia

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Livro: Porto Sudão
Autor: Olivier Rolin
Tradução: Monica Stahel
Lançamento: fim de novembro

"Porto Sudão" é uma ironia nostálgica. É o relato de um homem que se desilude quando olha para o passado e para o presente.
Olivier Rolin é um dos que lutaram por justas causas, jovens, em maio de 1968 e que assistiram o declínio e queda de suas crenças. Dos grandes sistemas políticos à revolução sexual, tudo foi interrompido pela inexorabilidade da história.
O narrador de "Porto Sudão" exilou-se no mar Vermelho -lugar mítico para os franceses desde Rimbaud. Ele vive fazendo pequenos tráficos, lendo qualquer livro e observando o mar até receber a carta que anuncia a morte de seu amigo A.
O amigo, escritor, havia se suicidado por mal de amor. Os dois são, essencialmente, personagens românticos. A. tinha um relacionamento com uma jovem morena e pálida, uma representante da modernidade.
Ela o traiu. Não que tenha feito sexo com outra pessoa. Foi pior: ela entregou-se ao mundo tal como ele é. Deixou A. e o passado que ele representava: os grandes valores, por mais estúpidos que pudessem ser -o que o próprio narrador admite. A. não suportou estar morto para ela e para o mundo.
"Porto Sudão" é um relato curto, lotado de sinceridade. Por isso, é também contraditório.
(FS)

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