São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 1995 |
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Adöoru Sacode a tribo
CÉLIA ALMUDENA
Sepultura (Adõoru em xavante) grava música e clipe em aldeia indígena Eles são cabeludos e têm desenhos pelo corpo. A música deles é tão pesada e forte que o chão treme. As semelhanças param aí, mas a parceria entre eles vai longe. Eles são os índios xavantes da aldeia Pimentel Barbosa do Mato Grosso e o grupo brasileiro Sepultura, ou Adõoru (pronuncia-se adoouru), em xavante. O encontro entre eles aconteceu na semana passada e a sintonia foi total. O objetivo do encontro era gravar uma faixa do novo disco do Sepultura, "Roots" (raízes) a ser lançado no próximo ano e também um videoclipe com os índios. "Ainda estou em choque. Esse lance de gravar com a tribo é uma idéia antiga minha. Era um sonho que eu tinha e nunca achei que poderia ser realizado, achava que era impossível", conta Max Cavalera, 26, vocalista do Sepultura. Para a jornalista Ângela Pappiani, 40, do Núcleo de Cultura Indígena -que acompanhou a "expedição"-, houve um casamento perfeito. "Está preservada totalmente a música xavante e a do Sepultura", diz ela. Isso porque aconteceu uma verdadeira "jam session" (apresentação improvisada) entre índios e banda. "Levamos alguns acordes planejados no violão. Mas pedimos para os xavantes nos mostrarem suas músicas. A primeira foi a escolhida. Encaixou perfeitamente", diz Igor Cavalera, 25, baterista. A música apresentada pelos índios era "Wanãr‹õbê", que está no CD "Etenhiritipá - Cantos da Tradição Xavante", lançado no ano passado. É uma das músicas cantadas pelos padrinhos durante os rituais de passagem da adolescência para a vida adulta. "A música fala sobre a cura de pessoas, do mundo. Um assunto muito legal, que encaixa totalmente no que o Sepultura sempre aborda. Fizemos um arranjo em cima da música deles. Isso nunca foi feito por nenhuma outra banda. A música vai ganhar um nome novo", explica Max. Segundo ele, a música é muito diferente do resto do disco e vai ser difícil ser apresentada ao vivo, sem os índios. "Vai ser a música mais espiritual, mais raízes do disco. Ela mostra as raízes da música dos índios e as nossas, porque é uma percussão pesada. É meio um hino de guerra, mas pacífico. Mostra que dá para ter um som sem distorção e gritaria e ser tão forte e pesado quanto", diz Max. "A gravação ficou demais. É muito forte o que eles tocam ali, o chão treme na hora que eles batem o pé. Eles cantando e batendo o pé e a gente no meio do círculo. A batida do pé deles é pesada, então foi superfácil encaixar minha batida. Fiquei à vontade para quebrar tudo", conta Igor. "Com certeza, essa faixa do disco vai ser o hit da aldeia, o grande sucesso", acredita Ângela. Tomara que faça sucesso no mundo todo, já que o Sepultura abriu mão dos direitos autorais da música em favor da tribo. É para ajudar nos projetos que eles têm, que são muitos", diz Max. Próximo Texto: 'Nunca vou esquecer essa experiência' Índice |
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