São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 1995
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Livro elucida a vida e a obra de Fellini

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Avesso a entrevistas, com fama de mentiroso e aura de mistificador, o diretor de cinema Federico Fellini sempre foi um personagem felliniano. Mais próximo do mundo da imaginação do que do real.
"Minha vida passou tão rápido... Ela me parece um longo filme do Fellini sem cortes", disse, já no fim da vida.
"Eu, Fellini" vem elucidar um pouco essa figura. A estrutura do livro é de um extenso depoimento, em que Fellini repassa sua vida.
A autora, a jornalista norte-americana Charlotte Chandler, fez diversas entrevistas com o cineasta, de quem era amiga, entre 1980 e 1993, poucas semanas antes de sua morte. Foram conversas em cafés, em passeios de carro, ou durante as refeições.
Charlotte nunca fazia perguntas. Deixava o diretor divagar sobre o que quisesse. O resultado é um livro de memórias, que se divide em três partes.
A primeira relata a infância solitária em Rimini; a influência do circo e dos palhaços, das histórias em quadrinhos, dos filmes de hollywood que passavam no cinema Fulgor; a ida para Roma e o encontro com a mulher, a atriz Giulietta Masina.
A segunda parte conta como Fellini se tornou diretor e fala dos primeiros filmes. A terceira parte mostra sua vida depois da fama.
Há ainda depoimentos de diretores -como Roman Polanski e Roberto Rossellini- sobre ele. Além da filmografia. O prefácio foi pelo cineasta Billy Wilder.
Fellini explica a gênese de cenas de seus filmes, a maioria baseada em sonhos ou episódios vivenciados por ele. Conta embates para arrecadar dinheiro para dirigir, cortes impostos pelos produtores, detalha cenas não editadas. E discute sua atração pelo esoterismo e pela comida.
São muitas as curiosidades reveladas com humor e nostalgia pelo diretor.
Um exemplo: ele rejeitou Paul Newman para o papel do protagonista de "A Doce Vida", interpretado por Marcello Mastroianni, porque queria "um rosto bem normal, um rosto sem personalidade, um rosto banal, inexpressivo".
Fellini pontua a narrativa com o mesmo humor e melancolia de seus filmes.
Ele conta que teve uma infância solitária em Rimini, onde nasceu, em 1920. Preferia brincar sozinho, dando vida a marionetes.
Começou trabalhando como caricaturista e tinha paixão por artes plásticas. "Os filmes são quadros que se movem", afirmou.
Fellini disse que existem três formas de tempo: o passado, o presente e o reino da fantasia.
Como diretor de cinema, ele preferiu se debruçar sobre a última forma de tempo. "Em meus sonhos nunca sou impotente. Os sonhos superam a realidade em muito.(...) O diretor tem o luxo de soprar vida em suas fantasias."

Livro: Eu, Fellini
Autora: Charlotte Chandler
Preço: R$ 29,90

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