São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 1995
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Festival do Minuto lança olhar sobre a cidade

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O quinto Festival do Minuto prova: a criatividade por vezes mora na restrição. No caso, duas: a da duração, até sessenta segundos de imagens em movimento, e, a partir deste ano, a do tema. "De Olhos na Cidade" foi o escolhido para o evento deste ano, que inclui além da tradicional competição de filmes e vídeos, uma mostra informativa de minutos feitos por crianças (Minutos Kids, leia ao lado) e um concurso fotográfico.
Patrocinada mais uma vez pela Enterpa Engenharia, a versão 1995 do Festival Mundial do Minuto acontece na próxima semana, simultaneamente em São Paulo (CineSesc e rede Sesc do interior) e no Rio (Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho) entre os dias 21 e 26. No mesmo período, estão previstas exibições no exterior. A vinculação internacional é marcante neste ano: o festival é um evento preparatório oficial da Habitat 2, conferência mundial sobre questões urbanas que a ONU realiza em junho de 1996 em Istambul (Turquia).
Aquecendo os motores para tudo isso, o resultado do concurso fotográfico chega ao Centro Cultural São Paulo na próxima quinta e já pode ser conferido no Rio também no Centro Vianna Filho.
Não vai ser fácil o trabalho do júri, composto por Anna Muylaert, Helvécio Ratton e Marcelo Tas, para definir os vencedores na categoria "imagens em movimento". A qualidade média dos trabalhos subiu significativamente frente a seleção dos dois últimos anos. Sinal disso é o fato de a TV Cultura de São Paulo ter programado para horário nobre (20h30), no domingo 3 de dezembro, a exibição dos concorrentes. O ganho em qualidade reflete o salto em quantidade. "Tivemos o dobro de inscritos", disse à Folha o coordenador do evento, Marcelo Masagão. O tema "De Olhos na Cidade" motivou 778 realizadores de 31 países a apresentar 914 trabalhos (foram 445 os inscritos em 94). Destes foram selecionados 45 obras audiovisuais de dez países para a mostra competitiva. O Brasil teve o maior número de inscrições (525) e também lidera o ranking dos selecionados (21).
O foco na vida urbana ou metropolitana curiosamente não incentivou, ao menos entre os selecionados, uma avalanche de efeitos ou o recurso igualmente fácil a panfletos apocalípticos. Raríssimos entre os concorrentes articulam discursos genéricos sobre a urbe. Ao tratar de suas cidades, os realizadores optaram pelo particular sobre o geral.
O grande exemplo é "Liniestrasse" da alemã Betina Kuntzsch, que revela a dimensão de palimpsesto urbano de uma simples calçada acidentada. O mesmo vale, no plano ficcional, para "Aprende-se a Dizer Não", do francês Pierre Yves Claudin. Apenas dois planos: o turbilhão urbano ao fundo (ergue-se a nova Biblioteca Nacional), duas crianças brincando de fazer não com a cabeça, no detalhe. É uma aula da adaptação infantil à selva da cidade.
Há, claro, exceções generalistas. Destaca-se de pronto "Caleidoscópio" de Margareth Abrão. Todo o caos urbano, de belos edifícios aos solitários pedintes, ganha transcendência por um simples efeito de multiplicação da imagem como no brinquedo. "UniverCidades", animação por computador de Daisy Schmidt, é um supletivo da história das civilizações urbanas através de roupas e objetos que marcaram época. "The City" (A Cidade), de Rodrigo Hamam e Fábio Hauschila, detém-se na metrópole contemporânea, que tem seu ritmo e sua melancolia filtradas através de animações de telas de Edward Hopper.
Temas sociais marcaram maior presença entre os inscritos do que entre os escolhidos para a competição. Por exemplo, pouco sobrou dos 147 títulos que tratavam da questão dos "meninos de rua". A violência urbana se impôs por outros meios. O melhor do gênero é o argentino "Esto Que Aqui Comienza No Terminará Jamas", de Diego Santos, que mistura os universos de Borges e de Tarantino num conto policial de impacto.
Desilusões amorosas parecem ser a experiência social por excelência. Inês Cardoso acerta novamente a mão em sua vereda autobiográfica com "Para Esquecer Um Grande Amor", que encanta recorrendo apenas a um rosto, uma voz, uma mapa e uma ciranda de chapéus. O alemão John Staeger, por sua vez, resume também aos gestos essenciais uma briga de casal, num vídeo sem título. A vinculação temática revigorou o formato minuto. Prepare sua câmera -ou seu computador: "Autobiografias, Biografias e Personagens" é o assunto já definido do Minuto-96. A ciranda imagética não pára.

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