São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 1995
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O dito pelo não dito

Um presidente do Banco Central do Brasil ousou certa vez declarar que não há razões doutrinárias para a existência de bancos estaduais. Não demorou muito e tornou-se um ex-presidente do BC.
Mas isso foi no início deste ano. Cerca de 11 meses depois da intervenção do BC no Banespa é o ministro da Fazenda, Pedro Malan, quem finalmente admite que o governo federal já não exige a privatização do Banespa como condição para dar o empréstimo com o qual o governo paulista vai pagar suas dívidas com o seu banco.
Parecia clara pelo menos uma regra: a de só financiar o governo paulista caso ocorresse a privatização do Banespa, como no Banerj.
O custo dessa mudança doutrinária nas altas esferas da República será mais uma vez pago pelos contribuintes. O governo federal emprestará ao governo paulista cerca de R$ 6,5 bilhões, dinheiro que vai direto ao caixa do Banespa.
A novidade, nesse pacote e em outros que o governo propõe a diversos governos estaduais, é a instituição de condicionalidades, ajustes na máquina, cortes nas despesas com o funcionalismo e racionalização administrativa. O governo federal pretende atuar junto aos Estados da mesma forma como um FMI junto aos governos devedores.
A solução é tecnicamente sedutora, mas politicamente já nasce cercada de dúvidas. Quem não lembra das inúmeras cartas de intenções que o próprio governo brasileiro enviava ao Fundo? A prática de arquivar no olvido o dito e o escrito vai assim fazendo escola.

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