São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 1995
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Um projeto sequestrado

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - Sequestro virou um grande negócio no Rio de Janeiro. Por mais que eles assustem a população e o governo carioca anuncie medidas para combatê-los, o ramo não dá sinais de desaquecimento. Ao contrário, está em franco crescimento.
Só para se ter uma idéia, de janeiro a outubro do ano passado 81 pessoas foram sequestradas nas ruas do Rio. No mesmo período de 95 o número de sequestros pulou para 85. Isso sem contar aqueles que, oficialmente, a polícia nem toma conhecimento.
A cada novo sequestro a imagem da "Cidade Maravilhosa" vai sendo chamuscada lenta e progressivamente. Um prejuízo não só para o Rio, mas para todo o país. Afinal, ela é o cartão-postal brasileiro, o principal ponto de atração de turistas estrangeiros.
Daí que acabar com a violência no Rio não é uma missão só para os governantes daquele Estado. É tarefa também do governo federal e do Congresso. O primeiro, bem ou mal, vem fazendo a sua parte. O segundo, nem um pouco.
Há cinco meses, o Ministério da Justiça enviou um projeto ao Congresso propondo medidas para inibir o "negócio" sequestro. A proposta prevê, entre outros pontos, a indisponibilidade de bens de pessoas sequestradas e isenta de pena aquele que participa do crime, mas acaba auxiliando nas investigações.
Ninguém é ingênuo de dizer que, aprovado o projeto, os sequestros seriam banidos da vida do Rio. O próprio Ministério da Justiça lembra que é preciso reaparelhar e acabar com a corrupção na polícia.
Mas que daria uma contribuição, isso ninguém pode negar. E é exatamente isso o que se cobra do Congresso. Fazer a sua parte, pelo menos colocando em tramitação o projeto esquecido nas gavetas do Legislativo desde junho. Nem a primeira barreira, a Comissão de Constituição e Justiça, ele superou.
O grande problema é que os parlamentares, com raras exceções, estão mais preocupados em votar projetos que lhes rendam dividendos. Aqueles que podem acabar em uma negociação de verbas ou cargos com o governo federal, como um Fundo Social de Emergência ou uma reforma administrativa.
Talvez o Congresso decida livrar o projeto do cativeiro se um parente de parlamentar ilustre for sequestrado. Mas essa ajuda, com certeza, os sequestradores não vão dar.

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