São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 1995
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Sem futuro

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - São Paulo sediou recentemente três grandes seminários internacionais que discutiram o mesmo assunto: o futuro das megacidades.
As previsões costumam ser sempre catastróficas. Acho que uma das razões para o pessimismo é a observação diária de como as megacidades estão sendo administradas. Vamos pegar o caso da cidade de São Paulo.
A administração Maluf se sustenta em um tripé: normatização (cinto de segurança, proibição de fumo, fiscalização de restaurantes), obras viárias (incluindo os túneis) e marketing (gastos com publicidade, histrionices, maratona).
Essa política tem três falhas: não pensa o futuro da cidade, não investe na área social e endivida o município.
Algumas distorções são facilmente verificadas quando se compara o que o governo municipal pretendia gastar do orçamento em cada área com o que ele efetivamente vem gastando.
Vamos pegar o exemplo do déficit habitacional. Há um programa ambicioso em curso, o Cingapura, que pretende resolver esse problema com a urbanização e verticalização das favelas. O que dizem, no entanto, documentos da própria Secretaria das Finanças?
Maluf informou que gastaria em 94 5,52% do orçamento em habitação; gastou apenas 2,54%. Para 95, previa gastar 3,89%, mas gastou até agosto apenas 1,71%.
Outro exemplo é a saúde. A prefeitura previa gastar 14,12% do seu orçamento de 94 nessa área, e gastou apenas 10,07%. Este ano o problema se repete: previa gastar 12,54%, e gastou até agosto o equivalente a 9,56%.
Em compensação, tem gasto mais em vias públicas (o que inclui os túneis) do que previa o orçamento: em 94, gastou 15,37%, contra previsão de 15,03%; e em 95 vem gastando, até agosto, 16,54%, contra previsão de 15,42%.
Um terço do orçamento da cidade, diga-se de passagem, se destina aos encargos gerais do município e inclui as dívidas. Para ser preciso, 36,28% em 95, contra 29,20% em 94.
PS - O Ministério Público abriu inquérito contra Maluf e seu secretário de Finanças, Celso Pitta. Quer saber se a prefeitura gastou em obras dinheiro destinado a pagar desapropriações.

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