São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Pelé defende negros e ataca políticos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro extraordinário dos Esportes, Édson Arantes do Nascimento, o Pelé, ao defender ontem a eleição de parlamentares negros, atacou os políticos.
"Infelizmente, o sinônimo de político hoje no Brasil, de uma maneira geral, é corrupto, e o negro não carrega essa carga", disse Pelé para manifestantes do Movimento Marcha contra o Racismo.
Minutos depois do discurso, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), reagiu à fala de Pelé.
"Não acredito que ele (Pelé) tenha dito isso, mas, se disse, vou fazer uma guerra", disse Luís Eduardo.
Em nota oficial, divulgada pela sua assessoria de imprensa às 20h, Pelé afirmou que não acusou "indiscriminadamente" a classe política e os congressistas. Segundo ele, "não há como negar, entretanto, que o Congresso passa por um momento de descrédito, fruto principalmente dos episódios ocorridos na última legislatura".
Engajamento
Pelé se engajou no movimento para eleger mais negros para o Congresso. "É bem mais fácil você eleger um negro para discutir o problema do negro", afirmou, em declaração gravada pela rádio CBN e Rede Bandeirantes.
"Se o negro quer que se tenha uma melhora na sua posição social e uma melhora do Brasil de uma maneira geral, temos de botar a gente no Congresso, para defender a nossa raça", disse o ministro.
Numa crítica aos próprios negros, Pelé afirmou que hoje "negro não vota em negro". O ministro se ofereceu como exemplo para campanha. "Onde o Pelé chega, está chegando um cidadão brasileiro de cor negra", disse. "A minha bandeira é a do exemplo, da coisa séria", completou.
Pelé já havia criado polêmica no início da década de 70, quando afirmou que brasileiro não sabia votar.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, ao anunciar a indicação de Pelé para o ministério, no ano passado, destacou que ele seria o símbolo do Brasil que deu certo e que veio de baixo, mas comentou: "O Pelé nunca foi político, não tem vocação para isso".
Marcha
Pelé participou ontem de uma reunião com representantes das 14 entidades que formam a Executiva do Movimento Marcha contra o Racismo. A marcha pelos 300 anos da morte de Zumbi acontece na segunda-feira, em Brasília.
Os representantes do movimento pediram a Pelé uma "contribuição" para que FHC receba manifestantes da marcha no Planalto.
Segundo Edson Cardoso, secretário-geral da marcha, são esperadas para o ato cerca de 40 mil pessoas de todos os Estados do Brasil.

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