São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Funcionários da Funai são mantidos como reféns no PA

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM (PA)

Índios caiapós do Pará mantêm cinco funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) de Brasília como reféns na administração regional do órgão em Redenção (1.000 km ao sul de Belém).
São 37 os índios que invadiram o posto na manhã de anteontem. Não há tensão. Os funcionários de Redenção podem entrar e sair normalmente do prédio.
Os índios exigem a presença do presidente da Funai, Márcio Santilli, na cidade. A assessoria da fundação confirmou a presença de Santilli amanhã em Redenção.
Os caiapós pedem liberação de verbas para pagar dívidas da administração regional da Funai com supermercados, farmácias, hospitais e companhias de táxi aéreo. Anteontem, foram repassados à administração de Redenção R$ 45 mil -o total da dívida, segundo a Funai, chega a R$ 1,2 milhão.
Devido a essa dívida, que se forma desde o início do ano, comerciantes pararam de vender alimentos e remédios à Funai.
Há 3.500 caiapós nas 32 aldeias de Redenção, que também não conseguem ser atendidos nos hospitais nem alugar aviões. O cacique Ireô Caiapó disse por telefone à Agência Folha que espera Santilli até amanhã. "Depois, voltamos a nossa terra (a 278 km de Redenção) e levamos os funcionários."
"Foi vacilo político do presidente (da Funai). Os índios já pediam a presença dele há mais de um mês", disse por telefone à Agência Folha o indigenista Samuel Cruz, um dos reféns.
Os funcionários chegaram na sexta-feira a Redenção para fazer uma auditoria na Funai local. Segundo Cruz, há suspeitas de superfaturamento e desvio de verbas.
O administrador de Redenção, Célio Beckmann, não foi localizado pela Agência Folha. Ele não esteve no posto ontem e, segundo os funcionários, não tem telefone residencial.
Cruz disse que estão sendo bem tratados pelos índios. "Vamos esperar o presidente. Já negociamos com os índios e a polícia local. O clima é tranquilo", afirmou.
Além de Cruz, permanecem como reféns o técnico operacional Itamar Dias, o agrônomo Nélson César de Júnior, o indigenista Marcus Vinicius e o técnico em contabilidade Ozorito Ulisses. Uma sexta refém, a socióloga Maria Elisa Ribeiro Leite, foi liberada no dia da invasão e enviada a Brasília para falar com Santilli.

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