São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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É melhor seguir com Telê do que arriscar

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Afinal, encerrou-se o ciclo de Telê no Morumbi? Hoje, dizem, teremos um definição, se não escorregarmos todos pelos meandros mineiros que levam às origens do treinador e à praxe das diretorias tricolores.
Desconfio mesmo que o São Paulo haverá de liberar Telê para executar esse ainda nebuloso plano de resgate do América mineiro, mantendo-o, porém, no comando da sua equipe. Isso porque, resumindo o pensamento tricolor: tá bom, sai Telê; e daí? Haverá outro treinador de tamanha envergadura no futebol brasileiro, hoje em dia? Não.
Logo, desgastado ou não, o melhor é seguir com o mestre do que se arriscar com qualquer outro, que, até se adaptar, já está na hora de partir, seja por seu próprio desejo, seja por imposição da torcida ou do corneteiro estridente de plantão.
Se a questão é o tal desgaste com os jogadores, prudentemente, já está em ação o plano de resguardo: Telê fica lá nas arquibancadas, de onde, aliás, melhor se vê o jogo, enquanto Muricy vai tocando as coisas aqui embaixo.
Além do mais, jogador vai e vem como os pássaros que seguem as correntes tépidas. Seus sensores estão ligados permanentemente na parabólica global onde, a cada fim-de-semana, desfilam as mais variadas e atrativas oportunidades, às quais se agarram ao primeiro aceno.
Até uns 10, 20 anos atrás, o jogador era encarado como um bem inestimável, uma jóia de família. Vender o passe de um craque consagrado ou mesmo de uma jovem promessa era uma heresia, uma afronta à torcida e aos bons costumes.
O cartola de oposição vinha para os jornais desancar o presidente irresponsável que estava dilapidando o patrimônio do clube. Os torcedores reuniam-se à porta do clube para protestar; os cronistas metiam a boca no dirigente incauto.
Eram tempos em que o jogador nascia e morria no seu clube de origem. Recitava-se, durante anos e anos, a mesma escalação, e, por isso, medravam nas concentrações as chamadas igrejinhas, templos de intrigas frequentadas pelos ídolos que derrubavam ou salvavam os treinadores, estes, sim, meros caixeiros-viajantes.
Na verdade, continuam sendo, já que os hábitos não mudaram muito, embora as circunstâncias sejam outras. Com uma única exceção: Telê, que cumpre o mais longo mandato de todos os tempos do futebol brasileiro -cinco anos. (Lula, do Santos, não vale, simplesmente porque, fora do longo período do Santos, teve apenas uma breve e desastrosa passagem pelo Corinthians).
Abstraindo-se seu currículo incomparável, onde despontam os principais títulos obtidos pelo São Paulo em toda a sua história, vejamos o chamado custo-benefício. Só pra ficarmos com os mais recentes negócios efetuados pelo clube, Telê, ao descobrir Juninho e revelar Caio, doou aos cofres tricolores a bagatela de US$ 13 milhões. Somem-se a isso Cafu, Júnior Baiano, Ivan, Leonardo, Pintado, Ronaldão, Raí, Antônio Carlos, sei lá quantos mais revelados, burilados ou resgatados pelo treinador nestes cinco anos de profícuo trabalho, e chegamos quase a 30 milhões de dólares. É mole?

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