São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
"Delta de Vênus" é traição ao erotismo da escritora Anais Nin
INÁCIO ARAUJO
Produção: EUA, 1994 Direção: Zalman King Elenco: Audie England, Costas Mandylor Onde: a partir de hoje nos cines Paulistano, Eldorado 5, Ibirapuera 1, Morumbi 2 e circuito Filme: Mentes Perigosas Produção: EUA, 1995 Direção: John N. Smith Elenco: Michelle Pfeiffer, George Dzundza Onde: desde sexta nos cines Comodoro, Gazetinha e circuito "O sexo perde todo seu poder e sua mágica quando se torna explícito, mecânico, exagerado, quando se torna uma obsessão mecanizada". Essas palavras de Ana‹s Nin figuram no prefácio a "Delta de Vênus", coletânea de histórias eróticas que escreveu por encomenda de um personagem misterioso chamado O Colecionador. Seu livro não é o que está em questão, mas ele é a suposta base do filme realizado por Zalman King, produtor de "9 1/2 Semanas de Amor" e rei do erotismo yuppie. As relações entre o livro e o filme são, na verdade, tênues. Anais Nin efetuou uma busca da experiência erótica segundo uma sensibilidade feminina (ou seja, tentou escapar ao modelo masculino de escrever sobre sexo). A conclusão -segundo a qual sexo e sentimentos são indissociáveis na mulher- é importante, mas não central. Toda a questão é a busca de si mesmo via sexualidade e, a partir daí, dar a ver -em palavras ou imagens- experiências, e não signos de experiências. Ora, tudo o que King tem a mostrar são signos. Há a Paris de 1940 e seus meios intelectuais. Há uma jovem escritora, Elena, em luta com as palavras. Desses inconvenientes, o filme se livra rapidinho. Seu objetivo é chegar logo ao setor erotismo. Só que, aí, topamos com o semipornô padrão: imagens melosas, com jeito de anúncio de sabonete. Em resumo, quando se impunha suscitar a experiência erótica em filme, o que supõe crueza e rigor, tudo o que se tem a ver é uma sequência interminável de imagens atoladas na insignificância e na subliteratura. "Delta de Vênus" é o oposto mesmo do erotismo: não tem desejo e não tem paixão. Em compensação, é de uma timidez doentia (do tipo: vamos tratar de sexo sem ofender ninguém) e trabalha com profundidade de campo pequena: o foco é sempre curto e, quase sempre, está no personagem errado. É inepto na concepção e na na realização. "Mentes Perigosas" Em matéria de adaptação literária, há outra roubada no circuito: "Mentes Perigosas", que estreou na sexta-feira. Michele Pfeiffer faz uma professora às voltas com classe de alunos rebeldes. O tema, pertinente, termina soterrado: 3/4 dos diálogos são supérfluos e o 1/4 restante é tolo. Fica difícil. No mais, a filmagem é tosca (convencional), não se exige nada do elenco e os personagens não têm vida. Enfim, é um drama. Texto Anterior: Competição termina hoje sem favoritos Próximo Texto: Murmúrios revelam grandes canções Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |