São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Competição termina hoje sem favoritos

JOSÉ GERALDO DO COUTO
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O longa-metragem paranaense "Fronteira sem Destino", que deveria ser exibido anteontem em competição no 28º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, foi retirado do evento. Ou melhor: não entrou. Poucas horas antes da exibição prevista, seu diretor, Antonio Marcos Ferreira, comunicou ao festival que não conseguiu finalizar o filme a tempo.
O festival termina hoje sem favoritos. O prêmio do público parece próximo do curta "Deus Ex-Machina", de Carlos Gerbase (já premiado em Gramado), e do longa "Felicidade É...", os mais aplaudidos da competição. Mas a premiação do júri é imprevisível.
"O Mandarim", de Julio Bressane, o melhor filme do festival -ou pelo menos o mais rico em invenção cinematográfica-, é também um dos mais controvertidos. Não é todo mundo que aceita sua linguagem não-linear, seu intrincado quebra-cabeças de signos.
Outro concorrente forte, "O Judeu", de Jom Tob Azulay, impressionou público e crítica pela exuberância visual e pela cuidadosa reconstituição de época, mas são evidentes em sua estrutura as falhas causadas pelos inúmeros incidentes das filmagens.
O filme em episódios "Felicidade É..." (prêmio do público em Gramado) tende a ser considerado, pela crítica e pelo júri, uma colagem de curtas, e não um verdadeiro longa-metragem.
"Dezesseis Zero Sessenta", de Vinicius Mainardi, bem narrada fábula sobre a crueldade, ostenta um cinismo arrogante que deve desagradar parte do júri (composto, entre outros, pelo cineasta Ugo Giorgetti e pelos atores Antonio Pitanga e Mayara Magri).
"Enredando as Pessoas", de Eder Santos, é mais uma colagem de experiências com as possibilidades de manipulação da imagem por meios eletrônicos do que propriamente um filme de longa-metragem.
Diante desse coquetel de deformações audiovisuais entremeadas por frases pueris, é possível perceber que o autor tem talento, mas lhe falta o senso de economia, de síntese, essencial a qualquer produção artística.
Nesse contexto, correndo por fora, o documentário "No Rio das Amazonas", de Ricardo Dias, aparece como o azarão que pode surpreender.
O filme agradou indistintamente a críticos e espectadores, que se encantaram com seu profundo humanismo e com a figura extraordinária do cientista Paulo Vanzolini, amparado aqui por uma linguagem cinematográfica límpida.
Curtas caretas
Entre os curtas de 35 mm, predominou o convencionalismo.
Com algumas poucas exceções -"Caligrama", de Eliane Caffé; "Glaura", de Guilherme de Almeida Prado; "Onde São Paulo Acaba", de Andréa Seligmann; "Deus Ex-Machina", de Gerbase-, o grosso da produção mostrou muito cuidado com a técnica e pouca ousadia.
Na categoria 16 mm, produções muito precárias e amadoras (várias delas de alunos de cinema) se alternaram com trabalhos mais sólidos. Entre estes, merecem destaque os documentários "Criaturas que Nasciam em Segredo", de Chico Teixeira, já premiado em Gramado, e "Zweig: a Morte em Cena", de Sylvio Back.
Na ficção, chamou atenção "Eu sei que Você Sabe", da estreante Lina Chamie. Inspirado no lirismo de Manuel Bandeira, contrapõe imagens de homens e cavalos durante um almoço na hípica. É um estranho poema visual.
(José Geraldo Couto)

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