São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Indústria de chips acelera investimentos

ERIC LE BOUCHER
DO "LE MONDE"

Quanto mais se investe, mais se ganha: a guerra dos semicondutores tem regras claras e só há lugar para os fortes. Para enfrentar a atual escassez e ganhar mercado, os produtores se entregam a um frenesi mundial de investimentos.
Não passa uma semana sem que um ou vários fabricantes de microprocessadores (chips, cérebro dos microcomputadores) anuncie uma nova fábrica.
Na sexta-feira, a IBM anunciou US$ 1,4 bilhão para reformular as unidades de Essonnes (França) e de Burlington (EUA), elevando para US$ 3,6 bilhões os investimentos em chips em 95.
A Intel anunciou, em outubro, investimentos de US$ 3,2 bilhões na reforma de três de suas fundições de silício, em Israel, Irlanda e Malásia. Nos últimos meses, a empresa gastou US$ 3,5 bilhões para ampliar fábricas nos EUA.
Também em outubro, o grupo japonês Matsushita tornou público seu projeto de construir uma fábrica de chips nos EUA. E a Texas anunciou intenção de construir uma fundição em Cingapura e de duplicar sua capacidade mundial.
Em setembro, foram programadas nada menos que cinco novas fábricas a cargo de Fujitsu, Hitachi, Motorola, SGS-Thomson (a única na França) e IBM-Toshiba.
No total, neste ano e no próximo, os especialistas prevêem entre 60 e 90 novas instalações para produzir lâminas de silício, onde são gravadas, com precisão inferior a uma micra (milionésima parte do metro), várias centenas de chips. O investimento total é de cerca de US$ 75 bilhões, mais do que se gastou na década de 80.
Demanda explosiva
Na origem dessa efervescência está uma demanda explosiva. A fome de potência de cálculo dos novos microcomputadores e a sede de memória dos novos programas consomem toda a produção das fundições de silício.
Como os chips invadem tudo -telefones, automóveis, eletrodomésticos-, o mercado cresce a uma velocidade que superou os prognósticos dos especialistas.
Segundo o instituto norte-americano Dataquest, neste ano a venda de memórias DRAM (de alta capacidade) aumentará 48%. O mercado mundial de componentes semicondutores crescerá dos atuais US$ 110 bilhões para US$ 280 bilhões no ano 2000.
No passado, a indústria de semicondutores conheceu ciclos que alternavam períodos de escassez e de excesso de capacidade. Os preços evoluíram em paralelo, subindo e despencando. A escassez atual deveria prolongar-se até 1997. Está durando mais que o normal, devido às hesitações de grupos japoneses em investir.
E depois de 1997? As novas fábricas vão saturar o mercado? Especialistas crêem que não. O ciclo se suavizará graças, provavelmente, aos novos setores que se convertem em clientes da eletrônica.
Para os fabricantes, satisfazer essa demanda exige novas capacidades de produção. Mas há outras razões para renovar instalações.
A evolução tecnológica dessa indústria se sustenta principalmente em uma nova geração de máquinas gravadoras, que permite reduzir o tamanho das linhas gravadas (entre 0,5 e 0,35 micras), o que leva a produtos mais modernos.
Também permite melhorar o rendimento, que é proporcional ao número de chips bons por lâmina, que por sua vez depende da espessura das linhas, da limpeza da fábrica, dos investimentos.
Há uma última razão. Os compradores de chips desejam cada vez mais produtos desenhados para as suas necessidades.
Em uma fase inicial do ciclo de seu produto (uma lavadora ou um telefone), acertam com os laboratórios de desenho dos fabricantes de chips o traçado de um circuito integrado na medida (os chamados circuitos integrados para aplicações específicas, ou ASIC).
Além disso, os compradores querem que o produto seja fornecido de forma contínua (sem ter que financiar estoques), o que faz com que os fabricantes de circuitos se aproximem fisicamente dos clientes e multipliquem instalações.
O resultado é um balé mundial dos microprocessadores. O TCM 9.055, por exemplo, um dos últimos circuitos da Texas para telecomunicações, foi concebido em colaboração com a Ericsson.
Nessa batalha, os fabricantes norte-americanos lideram. A Intel consolida sua liderança (80% do mercado mundial) acelerando os prazos de entrega das novas gerações. Para acompanhá-la, seus concorrentes se vêem obrigados a associarem-se, como Motorola com IBM ou AMD com Nexgen.

Tradução de LUCIA REGGIANI

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