São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Oposição de Israel promete apoiar governo de Peres

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A TEL AVIV

Binyamin Netanyahu, 47, líder do Likud, principal partido de oposição em Israel, é um dos mais ácidos críticos ao processo de paz idealizado e conduzido durante o governo de Yitzhak Rabin, do Partido Trabalhista.
Após o assassinato do premiê israelense, no último dia 4, Netanyahu foi acusado, inclusive pela viúva Leah Rabin, de, com seus ataques ao governo, criar um cima propício à violência no país.
Em entrevista ontem a seis jornais estrangeiros, entre eles a Folha, o líder do Likud rebateu as acusações e anunciou a decisão de seu partido em apoiar o primeiro-ministro em exercício, o também trabalhista Shimon Peres, durante a formação do novo governo.
Netanyahu acha, no entanto, difícil que o Likud venha a integrar um governo de coalizão. Leia a seguir os principais trechos da entrevista, realizada no Knesset, o Parlamento de Israel, em Jerusalém.

Pergunta - O primeiro-ministro em exercício, Shimon Peres, está começando a negociar a formação do novo governo. Qual será a posição do Likud?
Binyamin Netanyahu - Acabo de chegar da casa do presidente Ezer Weizman, onde comuniquei a ele a atitude sem precedentes por parte do Likud de recomendar, como oposição, que a tarefa de formar o novo governo fique sob responsabilidade do Partido Trabalhista e que isso seja feito de acordo com suas escolhas.
Decidimos dessa maneira simplesmente porque acreditamos que as divisões entre o Likud e o Partido Trabalhista precisam ser decididas em processo democrático adequado, com eleições, e não por meio da bala de um assassino.
Pergunta - Existe a chance de o Likud integrar um governo de coalizão com os trabalhistas?
Netanyahu - Se o Partido Trabalhista nos chamar e expressar o desejo de chegar a uma posição de consenso com o Likud, obviamente consideraríamos a hipótese. Governos de união nacional normalmente se formam depois que todos os lados estabelecem uma agenda comum. Não sei se isso vai acontecer. No momento, acho mais provável chegarmos a um consenso em relação ao tom do debate político no país.
Pergunta - O sr. foi acusado pessoalmente pela viúva de Yitzhak Rabin, Leah Rabin, de não reagir contra demonstrações de radicalismo ocorridas durante comícios em oposição ao governo. Ela disse também que o tom das críticas do Likud podem ter incitado o atentado a Rabin. O sr. se sente culpado?
Netanyahu - Eu não quero falar sobre acusações vindas de uma família em sofrimento. Prefiro agir de acordo com o ditado judaico: "Não se deve julgar uma pessoa num momento de sofrimento.
Pergunta - Mas o Likud pretende adotar um discurso mais moderado a partir de agora?
Netanyahu - Acho que todos devemos fazer isso. Antes do assassinato, um ministro do gabinete chamou o Likud de Partido Nacional Socialista (o partido nazista, de Hitler). Outro ministro afirmou sermos um partido fascista. Também fomos acusados de colaborar com o grupo extremista islâmico Hamas (Movimento de Resistência Islâmico). Acho que todas as partes têm de moderar o tom.
Ontem, o premiê Peres e eu concordamos em, cada um no seu campo, trabalharmos para diminuir o volume das discussões no Parlamento e fora dele. Isso, no entanto, não pode impedir a continuação de um vigoroso debate em Israel, porque as principais decisões relativas ao processo de paz estão por ser tomadas.
Pergunta - A que decisões o sr. se refere?
Netanyahu - Onde vão ficar as fronteiras? O que acontecerá com Jerusalém? Só podemos resolver questões cruciais como essas de duas maneiras: por meio de um consenso -o que até agora é algo que, parece, não temos condições de atingir- ou se concordarmos em como discordar. A decisão final será toma nas urnas.
Pergunta - As divisões políticas em torno do processo de paz podem causar mais violência?
Netanyahu - Intoleráveis em Israel não são as divisões políticas, mas as idéias de que alguém tentou forçar sua visão por meio do uso da violência. Eu não me importo se as causas dos terroristas são justas ou injustas, verdadeiras ou falsas. Eu me importo com os meios que eles utilizam para atingir seus objetivos. Esses meios são intoleráveis.
O que me preocupa é a clara tentativa por parte de alguns de explorar esta tragédia para deslegitimar as opiniões de seus opositores. Isso é puro macartismo. Precisamos unir o país em torno de um debate, não dividi-lo ainda mais.
Pergunta - Em pesquisas anteriores ao assassinato de Rabin, o Likud apresentava boas chances de vitória nas próximas eleições. Essa situação se alterou agora?
Netanyahu - Acho mais adequado não avaliar as coisas no olho do furacão. Prefiro aceitar um conselho de Shimon Peres de muitos anos atrás. Ele disse: "Pesquisas são boas para cheirar, mas não para beber.
Pergunta - Qual a posição do Likud em relação ao processo de paz conduzido por Rabin?
Netanyahu - Uma semana atrás, segundo me informou uma fonte confiável, Iasser Arafat disse em Gaza que ele "continuaria a luta até a liberação total das terras da antiga Palestina. Isso significa mais que a faixa de Gaza e a Cisjordânia, significa toda Israel.
Temos sérias questões relativas às reais intenções de outra parte. Ainda não houve, por parte dos palestinos, uma demonstração sólida de aceitação do Estado de Israel, sob quaisquer condições.
Temos também questões no que diz respeito à nossa defesa. Achamos que os palestinos devem ter autonomia, mas a segurança deve ficar sob controle de Israel. Somos contra o Estado Palestino.
Pergunta - Se o Likud vencer as próximas eleições, os acordos de paz serão revistos?
Netanyahu - A questão da manutenção dos acordos, do que esta escrito no papel, é irrelevante.
Em primeiro lugar, porque a Autoridade Nacional Palestina está constantemente violando seus compromissos. Cerca de 300 violações já foram documentadas pelo governo israelense.
Em segundo, no acordo de paz há uma cláusula que diz que, no momento do acordo final, os dois lados podem apresentar novas condições.
No entanto, estamos conscientes de que muito do que foi estabelecido já está se tornando realidade. Não podemos ignorar os fatos, gostemos ou não deles, e isso será levado em consideração.

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