São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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REAÇÃO

Benedita da Silva, senadora (PT-RJ) - "É muito importante que Pelé se pronuncie sobre essas questões. A raça negra nunca esteve no poder e por consequência nem sequer teve a oportunidade de administrar, quanto mais de se corromper. A corrupção não é da cultura da raça negra, que tem uma transparência muito grande. Negro não vota em negro, mulher não vota em mulher. O poder é branco, rico e masculino. É a imagem da experiência e da competência. No estereótipo, negro é ignorante e incompetente. Passa-se muito a idéia de que não se deve votar em negro porque não tem experiência e competência, e na mulher por ser inexperiente e ser simples. Nós (os negros) estamos excluídos do processo de participação política".

Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP - "Concordo que mais negros devam ocupar posições no Legislativo, Executivo e Judiciário. A comunidade negra só terá a sua condição modificada no Brasil quando os negros conquistarem recursos de poder através de sua presença nas instituições do Estado e na sociedade civil. É escandaloso que 107 anos depois da abolição da escravatura a comunidade negra esteja virtualmente ausente de posições de mando no Brasil".

Renato Janine Ribeiro, professor de filosofia política da USP - "Tem muito sentido sugerir que as pessoas procurem votar em pessoas mais próximas a elas. Existe por parte dos negros e dos excluídos em geral a tendência de escolher pessoas que não necessariamente os representem. O ministro não disse que a classe política é corrupta. Disse que ela tem a imagem de corrupta. E tem razão quando diz que os negros não têm essa carga".

Milton Gonçalves, ator e subsecretário de Gabinete Civil do Estado do Rio - "A cada declaração de Pelé o mundo cai em cima dele. Acredito que ele queria falar que não se vota em quem defende os interesses do pobre. Quando ele falou de políticos desonestos, não quis dizer que todos são desonestos. Os negros fazem parte da sociedade e todos somos culpados da sociedade que temos".

Ruth de Souza, atriz - "Acho o Pelé muito inteligente e muito honesto. Ele tem toda razão quando diz que nós negros somos relegados a um segundo plano, a começar pela educação. Só com educação vamos conseguir chegar ao Congresso. Quanto à corrupção, isso é de cada um. Não tem nada a ver com a raça. Pode ser branco, preto, azul ou cor-de-rosa".

Abdias do Nascimento, 82, suplente de senador (PDT-RJ) - "Acho que o Congresso como um todo não é corrupto, mas a CPI do Orçamento mostrou que existem corruptos lá. Parece que não carregamos (os negros) esse estigma (de corruptos) porque são poucos (os que chegaram ao poder) e os poucos parece que não são corruptos. É evidente que se precisa ter mais negros no Congresso, que não se sensibiliza com as questões negras quando são colocadas em discussão pelos negros que aparecem por lá esporadicamente".

Maria Hermínia Tavares, professora de ciência política da USP - "Acho que os termos da declaração não foram felizes. Corrupção não tem cor nem tem sexo. Mas seria conveniente e interessante que houvesse pessoas defendendo interesse da população negra. O negro deve votar em pessoas que defendam seus interesses e direitos".

Marco Aurélio Franco, educador - "É uma bandeira que precisa ser levantada no país, embora possa parecer uma espécie de racismo às avessas".

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