São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Bancos doaram a políticos que analisam MP

GUSTAVO PATÚ; MARTA SALOMON; OLÍMPIO CRUZ NETO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O sistema financeiro investiu pelo menos R$ 988 mil nas campanhas eleitorais dos membros da comissão encarregada de examinar a MP (medida provisória) das fusões bancárias, que permite benefícios fiscais e empréstimos privilegiados aos bancos.
O deputado Benito Gama (PFL-BA) -que ocupa o cargo de relator, o mais estratégico da comissão- recebeu R$ 80 mil do setor financeiro. Isto corresponde a 18,76% de todas as doações que recebeu. O Banco Itaú, com R$ 60 mil, respondeu pela maior parte das doações declaradas pelo deputado.
Segundo a Folha noticiou no caderno Eleições S/A, em outubro, a arrecadação declarada à Justiça Eleitoral é muito inferior à efetiva. Sob anonimato, um tesoureiro de campanha informou que apenas um terço das doações de campanha é informado ao TSE.
Bancos que hoje estudam participar de fusões e incorporações contribuíram para as campanhas de membros da comissão.
O Unibanco, que estuda uma fusão com o Nacional, gastou R$ 50 mil com a campanha do deputado Delfim Netto (PPB-SP), membro da comissão e favorável à MP. Ele recebeu R$ 115 mil do sistema financeiro, que corresponde 23,21% de todas as doações. O Unibanco investiu a mesma quantia no hoje ministro José Serra, cujo suplente, Pedro Piva (PSDB-SP), está na comissão. A chapa dos dois recebeu R$ 381 mil, 20,1% do total doado à chapa.
"Qual é a relação que pode existir entre uma coisa e outra?", pergunta Delfim, que calcula em R$ 10 bilhões o gasto potencial de dinheiro público com o financiamento de fusões e incorporações.
Os bancos foram os segundos maiores financiadores das eleições gerais de 94, atrás apenas das empreiteiras. Investiram ao todo R$ 16,2 milhões, dos quais R$ 6,4 milhões apenas na campanha do presidente Fernando Henrique.
Benito Gama, como Delfim Netto, argumenta que o quase R$ 1 milhão investido pelos bancos nas campanhas dos membros da comissão não afetará a atuação dos parlamentares.
"Estou muito confortável e isso vale para qualquer outro", disse o relator da MP. "A corrupção ocorre em outro nível e ninguém aqui se vendeu aos financiadores."
Independentemente das contribuições dos bancos, a composição da comissão deve garantir uma aprovação tranquila para a MP editada pelo governo no dia 4.
(Gustavo Patú, Marta Salomon e Olímpio Cruz Neto)

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