São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Carmela Gross mostra a fragilidade dos objetos

DA REPORTAGEM LOCAL

Exposição: Carmela Gross
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (rua Arthur de Azevedo, 401, Pinheiros, tel. 011/883-6322)
Quando: de hoje a 22/12, seg. a sex. das 10h às 19h, sáb. das 11h às 14h
Quanto: preços variam de R$ 2 mil a R$ 10 mil

As 15 peças que Carmela Gross expõe a partir de hoje no Gabinete de Arte Raquel Arnaud usam papel, panos, ferro, asfalto e luz para garimpar a fragilidade do que é supostamente sólido.
Essa primeira intenção surge clara na superfície de pano coberta por asfalto. Dobrado sobre um suporte de metal preso à parede por dobradiças, o tecido provoca a sensação de desabamento. É como o último fragmento de um mundo em desaparição.
Numa sala grande, a obra está quase sozinha. Na parede oposta, outro suporte do mesmo tipo sustenta apenas duas lâmpadas tubulares. Sobra espaço no ambiente amplo, como se outras obras ali antes presentes já tivessem evaporado de uma vez.
As hastes de ferro, retorcidas, também se apresentam como fragmentos. O metal se sustenta na parede como um traço sobre o papel, fragilizado, com diferentes espessuras. Parece ter sido retirado do entulho de uma demolição ou de um caderno de rabiscos.
Como no garimpo, a obra da artista Carmela Gross se faz sobre o trabalho da repetição aliada ao acaso. É o gesto repetido que cava as folhas de papel superpostas, formando imagens que lembram animais. É também o gesto repetido que sobrepõe os panos recortados, com superfícies cada vez menores, para formar um volume preso a uma barra de ferro.
É um território de incertezas. Os objetos absorvem o cansaço dos gestos repetidos que os constituíram. São coisas cansadas. Menos do que expostas, elas repousam.

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