São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Comparecimento às urnas na Argélia deve ser maior que em 91

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

A participação dos argelinos na primeira eleição presidencial do país pode ultrapassar em 25% o comparecimento às urnas registrado na eleição legislativa de 1991.
A informação foi fornecida ontem por diretores das juntas eleitorais argelinas.
Na França, onde 630 mil cidadãos argelinos começaram a votar na semana passada, estima-se que a participação já estaria próxima dos 59% registrados no pleito legislativo de 1991.
O nível de abstenção é um dos indicadores mais importantes de uma eleição que deve ser ganha provavelmente pelo general da reserva e atual presidente Liamine Zéroual. A disputa está sendo boicotada pelos maiores partidos da Argélia.
Na eleição legislativa cancelada pelo golpe de janeiro de 1992, estes partidos tiveram 81% dos votos. Para eles, a eleição "é uma farsa destinada a legitimar o regime".
Além de boicotadas por quase toda a oposição, as eleições ocorrem sob ameaças dos guerrilheiros islâmicos fundamentalistas dos Grupos Islâmicos Armados. Os GIA disseram que as "urnas serão transformadas em caixões".
Frases pintadas em muros de bairros islâmicos dizem: "Quinta-feira, votos. Sexta, balas. Sábado, sangue".
Acreditando na ameaça, ontem os argelinos faziam filas nos mercados da capital, Argel.
Na manhã de ontem foi ouvida uma forte explosão na periferia da cidade. Emissoras de televisão e rádio argelinas não comentaram o fato.
A guerra que opõe os GIA e o Exército Islâmico de Salvação contra o governo militar argelino já matou cerca de 50 mil pessoas desde 1992.
Cerca de 300 mil militares, policiais e milicianos civis devem fazer a segurança do primeiro turno da eleição, que ocorre hoje.
Mahfud Nannah, 53, do Movimento da Sociedade Islâmica-Hamas (5,35% dos votos em 1991) é o único candidato que pode provocar um segundo turno. A nova eleição seria realizada a partir de 17 de dezembro.
Nannah defende a instalação de um Estado islâmico moderado, pela via legal e pacífica. Apresenta-se como alternativa à Frente Islâmica de Salvação (FIS, partido extinto pelo governo e que teve 47,54% dos votos em 91).
Segundo a pesquisadora francesa Séverine Labat, especialista em Argélia, o general Zéroual é o candidato de um regime dominado pela Serviço de Segurança Militar, a polícia política argelina.
Estes militares dominam a máquina do governo e o comércio exterior do país. Isto é, as vendas de petróleo, que representam 90% das exportações.

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