São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Demolição

O nível recorde de demissões na construção civil, registrado em outubro, não é apenas um dado bastante negativo sob o aspecto do desemprego. Ele é também uma indicação desanimadora sobre as expectativas dos empresários do setor para o médio prazo.
Deve-se ressalvar, entretanto, que se trata de uma das atividades mais sensíveis a juros altos e que as decisões de investimento nessa área sofreram uma significativa retração em face das incertezas quanto à possibilidade de corrigir anualmente seus contratos.
Como se trata de um setor cujo produto tem um longo prazo de maturação, o custo dos financiamentos tem impacto especialmente intenso na construção civil. A demissão de 15,2% do total da força de trabalho em São Paulo em apenas dez meses -foram demitidos 106 mil trabalhadores do setor entre janeiro e outubro deste ano- mostra que o presidente da República tinha razão ao qualificar as taxas de juros vigentes no Brasil de "escorchantes".
Não basta, entretanto, constatar que a construção civil está em um momento extremamente ruim e que a economia como um todo está menos aquecida do que no início do ano. Não se pode avaliar uma política apenas por seus custos, é preciso ponderar os benefícios.
A desaceleração do ritmo de crescimento contribuiu para que fossem alcançados resultados bastante satisfatórios no controle da inflação. A questão é avaliar se o governo não exagerou na dose.

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