São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Emprego e salário

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Recente editorial do jornal "The Washington Post" aponta o dilema que cerca o mercado de trabalho nos tempos modernos. De um lado, o modelo norte-americano, de desregulamentação ampla, e de outro o europeu, em especial o francês, que mantém salário-mínimo elevado e uma legislação que, em tese, protege vigorosamente os empregados.
Nem um nem outro funcionaram plenamente. Nos Estados Unidos, conseguiu-se reduzir o desemprego para a metade do patamar em que se encontra na Europa (5,5% x 11%). Mas o rendimento médio dos assalariados não mudou um "cent" sequer desde 1985.
Pior ainda: quem ganha abaixo da média recebe hoje menos do que recebia em 1985, descontada a inflação, claro.
Na Europa, manteve-se o poder de compra dos salários, mas aumentou o número dos que não têm salário porque estão desempregados.
Pergunta o jornal: "Qual alternativa é a melhor, a americana ou a francesa? Alto desemprego, persistindo por muitos anos, é ruim para a saúde da democracia. Também o é o crescimento da brecha entre ricos e pobres" (produto do modelo norte-americano).
A resposta, para o "Post", é "um esforço nacional para persuadir os jovens americanos a levar a sério a educação -e para assegurar que, independentemente da renda de suas famílias, tenham acesso a ela".
Vale para o Brasil também, como é óbvio. Mas, enquanto não se pode assegurar às famílias de baixa renda o acesso a uma educação de qualidade pelo menos razoável, parece evidente que o modelo europeu deveria ser olhado com carinho pelo ministro Paulo Paiva (Trabalho), que está negociando uma reforma na legislação trabalhista.
No Brasil, seria absolutamente insuportável que, em consequência de uma legislação permissiva, aumentasse ainda mais a brecha entre ricos e pobres, que já é a segunda maior do mundo, atrás apenas de Botsuana.
Como seria insuportável, até do ponto de vista do dinamismo da economia, que os salários reais médios permanecessem estagnados, como vem ocorrendo no modelo norte-americano.

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