São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Uma CUT sertaneja

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - A greve está agonizando. E com ela a velha CUT. Alguns dirão que exagero. Mas aí está o calendário que não me deixa mentir. Estamos na metade de novembro e não se ouviu falar de nenhum "setembro negro".
Quem não se lembra dos velhos setembros? Os jornais trovejavam notícias alarmantes. A nação caía de joelhos diante da CUT. A pátria era dos bancários, dos petroleiros e dos metalúrgicos do ABC.
Hoje, acossado pelo desemprego, o trabalhador não cruza os braços senão para espantar o frio. Suas mãos estão agora espetadas em direção ao céu. Há os que agradecem o privilégio do emprego e os que suplicam pela reinserção no mercado de trabalho.
Quanto à CUT, comporta-se como viciado em clínica de recuperação. Privada da cocaína do grevismo fácil, mescla lampejos de lucidez a crises de delírio convulsivo. Sua recuperação é incerta.
A face lúcida da CUT negociou, mês passado, acordo histórico com a Ford. Os metalúrgicos aceitaram a jornada flexível de trabalho e um plano de demissões voluntárias.
Em nítida recaída, a central organiza agora, no Vale do Paraíba, um cadastro de desempregados da indústria dispostos a invadir fazendas. Se há algo que o Brasil tem de sobra é sem-terra. A fabricação de invasores de proveta é um ato de irresponsabilidade. A CUT brinca com fogo.
Ao industrializar o interior de São Paulo, Juscelino arrancou o homem do campo. O movimento trouxe para o asfalto personagens como Lula e Vicentinho. A CUT, ela própria filha da urbanização, toma agora o caminho de volta à roça. Era o que faltava: uma liga camponesa pós-moderna, uma CUT sertaneja.
Em tempo: a propósito da coluna de anteontem, recebi telefonema de Luis Eduardo Magalhães. O presidente da Câmara diz que, sob sua direção, a Casa teve sessões deliberativas todas as semanas. A folga de dez dias não prejudicará o cronograma, já que o FSE precisa ficar de molho por cinco sessões antes de ser votado em segundo turno. Quanto à delegação enviada aos EUA, é a menor dos últimos anos: caiu de 30 para 18 parlamentares. Então, tá.

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