São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Bresson forjou momento decisivo

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um pintor que se tornou mestre da fotografia. Uma espécie de lenda e referência para gerações de fotógrafos, o francês Henri Cartier-Bresson nasceu há 87 anos em Chanteloup, Seine-et-Marme.
Sua família era ligada ao ramo da indústria têxtil. Mas, aos 15 anos, decidiu que gostaria de fazer qualquer coisa que pudesse afastá-lo de panos e tintas.
Aos 17, já gastava grande parte do tempo de seus dias em visitas frequentes ao museu do Louvre, fascinado por Cézanne, Van Dyke, Goya e o Velázquez de "As Meninas".
Sua trajetória da pintura à fotografia acontece nos anos 30, depois de uma temporada viajando pela África, onde vendia a carne de sua caça como sustento.
Cartier-Bresson desiste da pintura, destruindo todos os seus trabalhos no momento em que se sente entediado com a Europa e, ao mesmo tempo, maravilhado com as possibilidades da técnica fotográfica.
Algo que acaba descobrindo ao ver uma foto de Martin Muncasz, que mostrava três garotos no Congo que brincavam com as ondas do mar. "Disse a mim mesmo: 'Meu Deus, pode-se fazer uma coisa dessas com uma máquina fotográfica'. E saí à rua", relatou numa de suas últimas grandes entrevistas, ao jornal francês "Le Monde", em dezembro de 91.
Com o final da Segunda Guerra, Bresson cria, em 1949, a agência Magnum de fotografia, que acabou por documentar todos os grandes acontecimentos da segunda metade do século.
A agência se tornou, com o tempo, uma espécie de referência para o fotojornalismo.
Na Magnum, que agregava nomes como o dos americanos Robert Capa e Dennis Stock, Bresson desenvolvia sua noção de fotografia e de jornalismo, que expressava um olhar social, antropológico e, por fim, artístico.
Para ele, assim como seus companheiros da agência, uma foto, e os fatos aprisionados em uma imagem, não era apenas o retrato de um acontecimento. Mas um imenso comentário sobre o homem e sua cultura.
Bresson elabora o conceito do "momento decisivo", em que o papel da fotografia é capturar, ou eternizar, o que aos olhos é apenas fugidio.
Um conceito -extraído do nome de um de seus livros- que se tornaria, com os anos, um mito para a comunidade ligada à fotografia.
Bresson sempre usou um único modelo de câmera, Leica, durante todo o tempo em que trabalhou na Magnun.
Mas, nos anos 70, prefere deixá-la de lado e retomar os pincéis para nunca mais voltar à fotografia. Para Cartier-Bresson, um fotógrafo que sempre odiou ser fotografado, o fim está em seu começo.

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