São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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Substância bloqueia 'Aids de macacos'

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma droga parece ter freado o desenvolvimento de uma doença semelhante à Aids em macacos. Segundo estudo publicado na edição de hoje da revista "Science", a droga, chamada PMPA, é o mais potente antiviral já testado.
"Baseados nos efeitos colaterais dos antivirais, podemos dizer que o PMPA é a droga mais eficiente que já vimos", disse Che-Chung Tsai, da Universidade de Washington (EUA), em comentário na mesma revista.
Mas o pesquisador alerta para dois fatos: os testes foram feitos em macacos e podem ter diferentes respostas no homem; e o vírus da "Aids dos macacos", conhecido como SIV (sigla para "vírus da imunodeficiência em símios"), difere do HIV-1, o principal vírus causador da Aids em humanos.
Os pesquisadores disseram, porém, que a droga, "tão poderosa em macacos", pode ser uma esperança de prevenção e tratamento da Aids no homem.
A droga foi desenvolvida por uma empresa dos EUA para homens, mas pesquisadores resolveram pedir que os testes fossem feitos primeiro em macacos.
Estudos mostraram que o PMPA é cem vezes menos tóxico que o AZT, principal droga usada no combate à Aids, e cerca de dez vezes menos tóxico que o PMEA, droga semelhante ao PMPA.
O PMPA, assim como o AZT, impede o funcionamento de uma substância chave para a duplicação dos vírus HIV e SIV, a chamada transcriptase reversa. Mas, segundo os pesquisadores, a droga age mais rápido e permanece mais tempo nas células que o AZT.
Pesquisadores de três instituições norte-americanas fizeram três testes em macacos do grupo a que pertencem o macaco-résus e o macaco-japonês.
No primeiro, testaram a eficiência da droga quando injetada antes de o animal estar contaminado com o vírus. Injetaram o PMPA em 15 macacos 48 horas antes de eles serem infectados.
No outro teste, cinco macacos começaram a tomar a droga quatro horas depois de contaminados, e, no terceiro teste, outros cinco começaram o tratamento 24 horas após receber o vírus SIV. Todos os macacos continuaram recebendo o PMPA por quatro semanas.
Segundo os pesquisadores, oito meses após a contaminação nenhum dos macacos havia apresentado sinais relacionados à doença ou efeitos colaterais.
Os dez macacos usados para comparação, que receberam a mesma quantidade de vírus, mas não receberam a droga, apresentaram vários tipos de infecção.
Em outro experimento, pesquisadores do Centro Regional de Pesquisas em Primatas (EUA) infectaram oito macacos-résus com SIV logo após o nascimento e passaram a tratar quatro deles com a droga três semanas depois.
Segundo os cientistas, seis meses depois os quatro animais que tomaram a droga ainda estavam saudáveis e tinham baixa quantidade de vírus no sangue.
Pesquisadores especulam que o PMPA poderá ser usado para prevenir infecções em quem se contamina acidentalmente com o HIV, como médicos ou enfermeiras.
Segundo os cientistas, a forma oral do PMPA está sendo desenvolvida, e os testes em humanos podem começar no próximo ano.

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