São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 1995
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'Antologia' dos Beatles conta história oficial

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
EM WASHINGTON

Claro que era possível amar os Beatles e os Rolling Stones. Mas, em geral, o mundo se dividia há 30 anos entre os fãs de uns e de outros.
Que ninguém duvide: o documentário "Antologia", que teve estréia mundial no domingo na rede de TV norte-americana ABC e passa na Globo em dezembro, é a história oficial dos Beatles para os fãs dos Beatles.
Quer dizer: nada de demolidor, iconoclasta. Um programa convencional, bem comportado -com algumas pimentinhas de forma ou conteúdo aqui e ali- mas muito bem feito, profissional, pronto para agradar as multidões.
O melhor são as grandes canções preservadas inteiras com imagens da época. Mostram como os Beatles foram capazes de sintetizar o espírito de seu tempo na música e como se saíam bem em frente a câmeras.
As entrevistas recentes dos três sobreviventes chegam a ser chatas. Paul e George mostram-se blazés, amuados, ao recordarem os bons tempos. Só Ringo ainda demonstra algum entusiasmo e o célebre velho bom humor.
Os beatlefanáticos vão adorar as cenas nunca vistas dos quatro, muitas em filmes domésticos feitos por eles próprios. Mas para a maioria dos que gostavam dos Beatles, tudo parece a mesma história recontada outra vez.
Bem recontada, sem dúvida. O trabalho de edição é perfeito. Mas nada mais do que isso. Nenhuma tentativa de se explicar o fenômeno social representado pelos Beatles nem o mundo que eles ajudaram a mudar. Muito menos o documentário menciona as razões do por que os três Beatles e Yoko Ono resolveram que havia chegado a hora de os Beatles ressuscitarem no mercado.
Claro que o motivo é grana. Mais uma grande obra de engenharia cultural, coroada pela música inédita de Lennon, "Free as a Bird", fadada para ser um dos maiores êxitos da década.
No próximo ano, os Beatles vão fazer mais dinheiro do que conseguiram durante a década em que trabalharam juntos. Para terminar a vida, não está mal e para a indústria que os sustenta, menos mal ainda.
Pouco importa. Antes celebrar as grandes canções dos Beatles do que ter empurradas goela abaixo muitas bobagens que fizeram tanto sucesso depois deles graças a sofisticados processos de marketing.
Por mais superficial e enfadonho que seja, "Antologia" pelo menos permite ao público, mais uma vez, rever essas músicas. É o suficiente. Tomara que a Globo não piore o programa dublando-o.

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