São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 1995
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Pequena ou grande conspiração

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Visto pelo ângulo de quem está ou já esteve no poder, o caso da escuta telefônica que revelou eventual tráfico de influência pelo então chefe do cerimonial do Planalto é tido como muito grave também pelo lado da escuta em si.
Pior: por ter sido feita sem que o chefe, o presidente da República, soubesse.
"Eu gostaria de saber antes de qualquer outro que existe uma suspeita, qualquer que seja, sobre algum auxiliar de confiança", diz, por exemplo, Tasso Jereissati, governador do Ceará.
Para outros políticos, que preferem dar informações e não declarações, a gravidade do caso se dá pelo que revela de "disputa por metro quadrado de poder", expressão que a Folha ouviu de quem muito entende de poder e desse tipo de disputa.
Só por aí já fica claro que ninguém parece acreditar na versão oficial de que o "grampo" telefônico foi determinado a partir de denúncias de envolvimento do embaixador Júlio César Gomes dos Santos com tráfico de drogas.
Nem dá mesmo para acreditar. O relatório final sobre o monitoramento informa que as gravações "confirmaram as suspeitas, que deram origem a esse serviço, de que Júlio César realiza tráfico de influências". As suspeitas eram, portanto, de outro tipo de tráfico que não o de drogas.
Se a versão oficial não cola, resta a de uma pequena (ou grande) conspiração palaciana, a tal "disputa por metro quadrado de poder". Alguém do círculo íntimo do presidente convenceu a Polícia Federal, exatamente por ser tido como íntimo do chefe, a "grampear" o telefone.
Esse alguém sabia o que estava procurando. Aliás, o próprio FHC deveria saber, a julgar pelo depoimento do senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), apontado, em uma das conversas "grampeadas", como obstáculo ao projeto Sivam, a favor do qual trabalhava o embaixador.
"Avisei o presidente dezenas de vezes que ele deveria fazer outra concorrência, desta vez aberta, porque o projeto cheirava mal", diz o senador.
Agora, então, exala um cheiro insuportável.

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