São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 1995
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Reflexos da crise

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - O que há de mais desagradável no último escândalo da República é a sua localização. Pilhou-se um traficante de influência em pleno terceiro andar do Palácio do Planalto, a meia dúzia de passos do gabinete presidencial.
Só os mais ingênuos achavam que, sob Fernando Henrique, os cofres públicos estivessem totalmente a salvo de ataques do gênero. Mas nem os mais céticos poderiam supor que a maçaneta da sala de sua excelência estivesse tão vulnerável.
O que há de mais alvissareiro no caso é a pronta reação de Fernando Henrique. O presidente parece ter aprendido muito com o episódio Dallari. Ao afastar prontamente o diplomata Júlio César Gomes dos Santos e o ministro Mauro Gandra (Aeronáutica), o presidente preservou sua autoridade.
Recorde-se que as primeiras manchas do governo Collor também foram fabricadas no Planalto. O cunhado Marcos Coimbra apertou a Petrobrás para conceder empréstimo à Vasp do amigo Wagner Canhedo. E o assessor Cláudio Vieira rateou a verba publicitária do governo como bem quis.
A reação de Collor foi um desastre. Ele preservou os auxiliares suspeitos. E atraiu para seus próprios ombros o peso das manchas. Descobriu-se mais tarde que tinha lá as suas razões: era cúmplice das trambicagens.
Mas nem a reação rápida de Fernando Henrique livrará o governo de certas consequências desagradáveis. Corre o risco, por exemplo, de enfrentar uma CPI. Deu-se à oposição a munição que lhe faltava.
Até aqui, chamou-se a atual administração de fisiológica e, por vezes, de incompetente. Aberta a CPI, o governo perderá a imagem casta que vinha conseguindo preservar.
Não se deve excluir também a hipótese de que uma investigação parlamentar acabe prejudicando o andamento das reformas constitucionais. Apurações do gênero costumam atrair os holofotes da imprensa. E não há nada que seduza mais um parlamentar do que o lume das luzes de TV.
Há ainda uma terceira e última consequência: o projeto Sivam, xodó dos militares e da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, está micado. Não sairá do lugar se não for submetido a uma completa reestruturação.

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