São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 1995
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Líbano: 52 anos de 'independência'

LODY BRAIS

A imprensa internacional surpreendeu o mundo com a triste notícia de que o ditador sírio, Hafez Assad, que mantém 40 mil soldados no Líbano desde 1976, determinou a prorrogação do mandato de presidente do Líbano por mais três anos.
É a primeira vez, desde que o Líbano se libertou do jugo otomano e o sistema republicano foi instituído, que a nação libanesa está sendo obrigada a engolir mais uma intromissão na sua soberania, que contraria a sua Constituição.
No Líbano, o presidente é eleito pelo Parlamento para um mandato de seis anos. Nunca, em toda sua história, esse mandato foi prorrogado por um dia a mais do que a Constituição determina.
De agora em diante, sua soberania passa a ser somente de fachada, porque nenhuma assinatura em Beirute terá qualquer valor se a firma não for reconhecida em Damasco. E a população cristã libanesa está sendo levada para a guilhotina com a complacência do mundo inteiro.
O Líbano vem pagando o pesado tributo de ser uma das raras democracias do Oriente Médio em uma vizinhança onde explodem o ódio e os regimes ditatoriais.
A extensão do mandato do presidente Elias Hrawi não deixa de ser um jogo perigoso, pois aumenta ainda mais o número de descontentes num país onde o salário mínimo é de US$ 150, mas seu valor real é consumido pela inflação de 16,5% ao mês, mais uma taxa de desemprego de 14,5% e administração estatal corrupta.
O mais importante, contudo, continua sendo o fato de que mais de dois terços dos capitais libaneses que saíram do Líbano ainda não voltaram, o que revela uma grave incerteza quanto ao seu futuro político. Certos meios econômicos se assustam com a atual política de endividamento, que, segundo eles, corre o risco de condenar o país à dependência externa.
Segundo estimativas atuais, esse endividamento é de US$ 8 bilhões, e o déficit orçamentário, de 50%. Do Líbano de 20 anos atrás, considerado o país mais desenvolvido da região, sobrou apenas a ingenuidade de seu povo.
Nós, libaneses do mundo inteiro, manifestamos nosso repúdio por mais esse ato arbitrário e violento por parte de Damasco sobre a gloriosa nação libanesa.
Até quando, neste final de século, as "potências democráticas permitirão a permanência dessa falta total de democracia nesse país sem petróleo e sem peso militar?

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